Pais denunciam treinadores por "humilhação e abandono" de atleta menor no estrangeiro

Os pais de um atleta de 14 anos denunciaram e acusaram o coordenador de natação de competição do Associação Desportiva Cultural e Recreativa do Bairro dos Anjos (BA), João Paulo Fróis, de "humilhação e abandono" do nadador menor numa competição que se realizou em Junho, em Espanha. 

O jovem, atleta do clube desde os três anos, “não permitiu que lhe rapassem parte do cabelo numa praxe realizada pelos treinadores antes da competição internacional” pelo que, explica o pai, “foi alvo de chacota em frente aos colegas na viagem de autocarro e deixado sozinho no parque de estacionamento do complexo de piscinas de Badajoz”.

“O meu filho ligou-nos em pânico, eu não consigo descrever o estado de aterrorizado em que ele estava”, sublinha o pai a quem foi justificado, por parte dos técnicos, “que eram brincadeiras de garotos e o cabelo acabava por crescer”.

Quando chegou ao local, acrescenta, o menor estava “sozinho, com as mochilas aos pés e traumatizado". "Disseram-lhe que estava expulso do clube e, a mim, que ele tinha sido mal-educado ao tratar o coordenador por tu e se tinha isolado", detalha o pai que denunciou o sucedido ao Ministério Público.

“João Paulo Fróis é o responsável máximo, no entanto, estavam lá outras pessoas que podiam ter evitado esta situação e nada fizeram como o Filipe Gomes que estava a levar a cabo praxe e o treinador dele nada fez para impedir”, acusa o pai do atleta, garantindo que “todos vão estar envolvidos no processo judicial".

O atleta foi afastado da equipa e terminou a época a treinar sozinho e com outras modalidades. A nova temporada começou noutro clube de natação, mas sem fechar portas à possibilidade de voltar ao emblema leiriense.

“O Bairro dos Anjos continua a ser o clube dele e agradecemos à direcção todo o apoio que lhe tem dado", sublinha o pai.

A acompanhar a situação, "o clube garante apoio total ao nadador porque é completamente contra este género de situações".

“Apesar de termos conhecimento do sucedido depois da prova, só foi possível agir após ser feita a queixa e recepcionada a carta do advogado, no final de Agosto, altura em que iniciámos um processo disciplinar e o coordenador João Paulo Fróis foi suspenso”, explica o vice-presidente do clube, Carlos Gonçalves.

O caso só foi tornado público agora, com um comunicado emitido pelo clube, “por serem lançados boatos de que o BA ia deixar de ter natação de competição”.

Certo de que esse não será o futuro, o vice-presidente lamenta “a saída de cerca de 20 atletas por causa desta situação”, mas espera que se marque o “início de uma nova Era no clube, com crianças felizes”.

“Agora sabemos que este tipo se situações não eram novidade, mas nunca houve, por parte de pais ou atletas, coragem de expor isto à direcção do clube”, lamenta Carlos Gonçalves.

“Não podemos só ‘mudar os feijões de saco’, temos de meter fim a algumas coisas. O ‘bullying’, enxovalhar as crianças e obriga-las a determinadas situações não se coaduna com a forma de estar da sociedade e é pena que algumas pessoas ainda permitam algumas coisas”, atira.

Contacto pelo JORNAL DE LEIRIA, o técnico João Paulo Fróis recusou-se a comentar a situação. “Eu não vou fazer qualquer comentário, lamento as coisas como estão a ser postas e não tenho nada a dizer porque isso está com os meus advogados” , afirmou o treinador, suspenso do clube onde trabalha há 14 anos. 

Até à publicação desta notícia, não foi possível obter uma reacção do técnico e atleta olímpico Filipe Gomes, que se demitiu enquanto treinador do Bairro dos Anjos.

Fundado há 36 anos, o Bairro dos Anjos dedica-se actualmente à competição em natação, esgrima, pentatlo e atletismo. Entre modalidades e aulas para as escolas, envolve centenas de atletas e emprega cerca de meia centena de colaboradores e prestadores de serviços.