Sociedade
Pais e associações em desacordo com mensalidades
Creches, escolas e ATL
De um lado estão as várias instituições privadas ou de solidariedade social, que tentam manter viabilidade financeira para o futuro e querem cobrar mensalidades, embora mais reduzidas, apesar de alguns serviços não estarem a ser prestados.
Do outro lado estão os pais, que entendem que não têm de pagar por um serviço que não usufruem ou exigem uma redução significativa nas mensalidades.
No Jardim-Escola João de Deus um movimento de encarregados de educação em todo o País tem criticado a redução de mensalidades proposto pela direcção, de 10%, a que acresce mais um desconto de 15%.
“Não são 25%. O valor final seria diferente”, explica Sara Correia, porta-voz de um grupo de pais da escola de Leiria. A mãe lamenta que não tenha sido possível uma negociação, uma vez que não obtêm respostas aos e-mails enviados à direcção da associação.
“Defendemos uma redução de 50%. Há funcionários que estão em lay-off e os custos diminuíram bastante. Pelo contrário, os pais viram aumentar os valores da alimentação com os filhos, porque estão em casa, assim como a utilização de água e de luz. Há famílias em lay-off ou em casa para dar assistência aos filhos, cujo rendimento caiu.”
O JORNAL DE LEIRIA tentou obter uma resposta da direcção da associação, mas tal não foi possível até ao fecho da edição. No Colégio Conciliar de Maria Imaculada os descontos variam entre os 10 e os 50%, dependendo se é creche, pré-escolar ou 1.º ciclo.
No entanto, a directora garante que “qualquer família que esteja numa situação difícil terá sempre ajuda, como sempre teve”.
Em caso de desemprego ou de diminuição de rendimento, o CCMI admite reduzir ainda mais as mensalidades ou mesmo isentar durante esta situação. “Temos pais que falam connosco com humildade e estamos cá para ajudar”, afirma a irmã Paula.
No jardim-de-infância O Ninho, uma instituição particular de solidariedade social, a redução foi de 25% passando agora para os 50%.
Mas cada caso é um caso. Nos ATL ligados às escolas há mensalidades que foram suspensas, noutras situações pais e instituições não se entendem. “Se contratei um serviço e ele não está a ser prestado de maneira alguma não faz sentido ter de o pagar”, adianta Sandra Pires, referindo-se à mensalidade do ATL do seu filho.
As instituições alertam que os seus custos não diminuíram assim tanto e os ordenados dos funcionários, mesmo em lay-off, têm de ser pagos de alguma forma.
Já depois do fecho da edição do JORNAL DE LEIRIA , a Associação de Jardins-Escolas João de Deus salienta que decidiu adoptar medidas excepcionais, devido ao surto pandémico da Covid-19, "para salvaguardar a saúde de todos", mesmo sabendo que "essas medidas afectam gravemente a actividade normal da instituição, enquanto entidade empregadora e acarretam consequências negativas para a sua situação financeira".
"A maior preocupação dos Jardins-Escolas são as crianças e o seu bem-estar. É por isso necessário garantir que, quando for decretado o reinício das actividades, estejam reunidas as condições nos 55 Jardins-Escolas e Centros Educativos. Para isso, é essencial garantir a sustentabilidade da instituição, que tem os seus custos fixos. Esses custos vão muito além dos postos de trabalho dos 1331 colaboradores, que é imperativo garantir", refere a nota envia ao JORNAL DE LEIRIA.
Um dos exemplos desses custos fixos é o "Centro de Acolhimento Temporário (CAT) – Casa Rainha Santa Isabel, em Odivelas, que tem de se manter em funcionamento, 24 horas por dia, durante todos os dias do ano". É necessário garantir que a educação e o bem estar das crianças, que foram entregues pelos tribunais, pelo facto de as famílias não terem condições para o fazer, prosseguem com a normalidade possível.
Numa circular enviada aos pais, a Direcção da Associação refere que partilha "com todos as preocupações " e "compreende e é solidária com as dificuldades que as crianças e suas famílias atravessam".
"Aos inúmeros constrangimentos vigentes, associa-se uma situação económica e financeira de grande fragilidade e incerteza, pelo que as vossas angústias, são também as nossas."