Sociedade

PJ: incêndio do Pinhal de Leiria terá começado num terreno com lixo. E terá sido uma reactivação.

23 out 2017 00:00

Judiciária aponta para acção humana. Falta saber se negligente ou criminosa.

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As autoridades ainda não encerraram a investigação oficial. Mas, de acordo com as primeiras conclusões da Polícia Judiciária (PJ), o incêndio da Burinhosa que alastrou para o Pinhal de Leiria terá começado num terreno com lixo, junto a casas e fábricas. E terá sido uma reactivação – a tese da PJ coincide com o que dizem os moradores. O primeiro alerta, às 06:54 da manhã, ainda noite, portanto, foi dado por um homem que regressava de uma festa. Os bombeiros de Pataias apagaram as chamas e abandonaram a ocorrência a meio da manhã, depois do rescaldo. Mas, às 14:33, surgiu um segundo alerta. Fonte da PJ garante ao JORNAL DE LEIRIA que tudo aponta para "uma reactivação" no mesmo local. Os bombeiros contrariam esta leitura. O fogo evoluiu para Norte sem controlo, até ser dado como dominado às 00:37 de terça-feira. Mais de 34 horas depois. Pelo caminho, consumiu 86% da Mata Nacional de Leiria e destruiu 12 edifícios de primeira habitação nos concelhos da Marinha Grande, Leiria e Pombal.

PJ fala de acção humana. Os investigadores da PJ já localizaram o ponto de ignição do incêndio. E acreditam que na origem há acção humana. Falta identificar o autor (ou autores) e saber se agiu com negligência ou intenção criminosa. No terreno vêem-se garrafas e latas no meio do mato e das árvores ardidas. De acordo com os moradores, é o cenário habitual. "Vêm aí camionetas e tudo descarregar lixo. Isso é que devia ser proibido. Até colchões ali havia", conta Maria dos Anjos Rodrigues, que mora na casa mais próxima, no final do Beco da Longra. As chamas chegaram a entrar-lhe pelo quintal. Ali à frente, a dois ou três quilómetros, começa o Pinhal de Leiria. "Reacendeu e nunca mais parou", recorda. "Para nós foi fogo posto". A vizinha, Maria Leonor Coelho, tem a mesma opinião: "Mão criminosa. A gente pensa que sim". E antes de explicar como anda nervosa – "Esta noite sonhei que a porta da cozinha estava a arder" – diz que ouviu "uma explosão", a lembrar "produtos inflamáveis" quando rebentam. "Um mistério". 
Quem estava com os bombeiros no domingo à tarde – e também fala em reacendimento – era Florindo Sousa, que habita ali perto. "Neste local onde começou o fogo já houve há muitos anos focos de incêndio. No mesmo sítio, sempre. Porquê não sei", refere, ainda incrédulo com o filme "infernal" a que assistiu no passado dia 15 de Outubro. 

Bombeiros garantem rescaldo bem feito. Tanto os bombeiros de Pataias como a Protecção Civil de Leiria asseguram que o rescaldo da primeira ocorrência na Burinhosa – com alerta às 06:54 da manhã – foi "bem feito", com o auxílio de um tractor. "É impossível ser uma reactivação", diz um dos elementos ouvidos pelo JORNAL DE LEIRIA. Da parte da Protecção Civil nacional, a porta-voz Patrícia Gaspar afirma que é necessário esperar "pelo fim da investigação", cuja competência "é da Judiciária e da GNR".

Prejuízos avultados. De acordo com o balanço mais recente da Câmara Municipal da Marinha Grande, ardeu o equivalente a 86% do Pinhal de Leiria e 54% do território do concelho. As chamas começaram no concelho de Alcobaça, no domingo, 15 de Outubro, e entraram nos concelhos da Marinha Grande, Leiria e Pombal, sempre no sentido Norte. Mais de 18 mil hectares, de acordo com Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS), incluindo manchas da Mata Nacional de Leiria, da Mata Nacional do Pedrógão e da Mata Nacional do Urso. Há 12 casas de primeira habitação destruídas nos concelhos da Marinha Grande, Leiria e Pombal, além de 10 casas de segunda habitação no concelho de Alcobaça. Uma fábrica em Vieira de Leiria ficou reduzida a cinzas e também uma vacaria. No combate, seis bombeiros de Leiria ficaram feridos.