Economia

Preço do arroz é quase o dobro mas produtores não lucram

26 jan 2023 14:53

Cereal regista a subida mais acentuada num ano

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O Louriçal é um dos maiores produtores de arroz carolino
Jacinto Silva Duro
Jacinto Silva Duro

Há um ano, José Pereira, produtor de arroz no Louriçal, concelho de Pombal, referia ao JORNAL DE LEIRIA que o reconhecimento do Arroz Carolino do Baixo Mondego como Indicação Geográfica Protegida poderia trazer algumas melhorias à fileira, que produz algum do arroz de melhor qualidade do mundo.

Há 12 meses, o preço por quilo, pago ao produtor, não chegava aos 40 cêntimos.

Este ano, o valor é o mesmo, mas o preço pago pelo consumidor é já de quase o dobro do verificado em Janeiro de 2021.

Em média, mais de dois euros nos supermercados.

Segundo a Deco Proteste, o arroz carolino é mesmo o produto que regista a subida mais acentuada no preço ao longo do último ano, numa lista de 63 bens alimentares. A explicação prende-se com vários factores, uns reais, outros nem por isso.

A invasão russa da Ucrânia que fez disparar o preço dos combustíveis terá sido um dos mais importantes, não sendo de afastar também alguns artifícios de engenharia financeira.

E houve também a seca cujo impacto poderia ter sido menorizado, caso o emparcelamento de terrenos na zona do Louriçal, prometido desde os anos 60, tivesse sido concretizado pelas autoridades.

A reorganização da propriedade permitiria as necessárias obras de regularização dos níveis de água nos campos de arroz, uma melhoria na fertilização, a retirada de marachãos e seu aproveitamento e até usar aviões na agricultura.

Também reduziria o custo de controlo com as infestantes, pois não seria necessário o emprego de grandes quantidades de herbicida.

“O preço da electricidade, do gás e a transformação tiveram grande impacto no preço. E houve uma grande quebra na quantidade produzida na área que se estende até ao vale do Mondego. Sei de produtores onde ela foi superior a 50%. No meu caso, foi de 25%”, conta José Pereira, fazendo notar que os apoios para a agricultura são cada vez menos e que todos os factores somados poderão, dentro de pouco tempo, levar a que entre 30 a 40% dos orizicultores a nível nacional deixem a actividade.

“O preço dos fertilizantes já não voltará a descer e sabemos que os combustíveis irão pelo mesmo caminho. Com o custo de produção tão alto, bastará um ano agrícola complicado para tornar a actividade incomportável”, afirma.

Um saco de adubo de 25 quilos, em 2021, custava entre nove e 11 euros, porém, em Maio do ano passado, o valor estava em 20/22 euros.

No final desta safra, José Pereira ficou apenas com uma certeza, que o ganho relativo, após abatimento dos custos fixos com fertilizantes, combustíveis e herbicidas foi igual, se não menor, ao da safra anterior.

Preço por quilo
Mau ano agrícola

A Deco refere que a subida do preço do arroz carolino se agudizou na última semana de Novembro de 2022, com a nova colheita e com os novos preços.

O director-geral da Associação Nacional dos Industriais de Arroz, Pedro Monteiro, escutado pelo Público refere que o preço da semente também subiu, devido ao mau ano agrícola que se sentiu em Espanha e Itália, em resultado da seca.

O mesmo jornal revela que, entre 2018 e 2021, o preço pago pela tonelada de arroz carolino em casca rondava entre os 350 e os 400 euros.

Em 2022, chegou aos 650. O descasque e o branqueamento, e o aumento de preço do transporte e embalamento ajudaram a que o preço por quilo chegasse a cerca de dois euros, enquanto o produtor continua a receber à volta de 40 cêntimos por quilo. Menos do que o preço de um café.