Sociedade

Treinadores de natação julgados por praxe com menor

27 fev 2025 15:18

Ministério Público acusou arguidos, que à data dos factos representavam o Bairro dos Anjos, de crimes de coacção agravada, na forma tentada

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O Tribunal de Leiria vai julgar dois treinadores de natação de Leiria, João Paulo Fróis e Filipe Gomes, acusados de crimes de coacção agravada, na forma tentada, por uma alegada praxe que envolveu um atleta menor, quando ambos estavam ao serviço da Associação Desportiva Cultural e Recreativa Bairro dos Anjos.

O primeiro responde ainda por um crime de maus-tratos e outro de coacção. Os factos remontam a Junho de 2022, quando os atletas do clube se deslocaram a uma competição em Badajoz, Espanha.

“Na viagem de ida, o arguido João Paulo Fróis anunciou ao microfone do autocarro em que seguiam que quando chegassem ao hotel iria realizar-se a habitual ‘praxe’ de corte de cabelo dos atletas que pela primeira vez estavam a participar em competições internacionais”, refere a acusação do Ministério Público (MP), a que o JORNAL DE LEIRIA teve acesso.

Segundo o MP, os atletas que não aderissem ao dito ritual corriam o risco de serem “excluídos da equipa do Bairro dos Anjos”. Já no hotel, Filipe Gomes munido de uma máquina de cortar cabelo, deu início à referida “praxe”, mas o menor recusou-se a participar e, “assustado, trancou-se no quarto”.

Mais tarde, o atleta ligou ao pai, “a gritar e a chorar convulsivamente”.

O corte não se concretizou, uma vez que a mãe do menor contactou outro treinador que acompanhava o grupo dizendo-lhe que não tinham o seu consentimento para procederem ao dito corte de cabelo.

Não obstante, refere o MP, João Paulo Fróis “promoveu uma chacota pública” dentro do autocarro, tendo como alvo o atleta. “Com intenção de humilhar o menor”, o arguido anunciou ao microfone, que havia “um sujeito que queria ser diferente de todos os atletas e que, por não cortar o cabelo, iria deixar de pertencer ao clube do Bairro dos Anjos”, referindo que, por isso, estava excluído das provas. Os pais do atleta que estavam a caminho de Badajoz para assistir às provas encontraram o filho “sozinho, no parque de estacionamento”.

João Paulo Fróis agiu “com o propósito conseguido de atingir o menor na sua dignidade pessoal, molestando-o psiquicamente, em decorrência do terror, vergonha e tristeza que lhe causou”, acrescenta o despacho.