Viver

Veia: "Queremos trabalhar com o espectador emancipado"

20 nov 2016 00:00

João Costa, Idalécio Francisco e Sandrine Cordeiro falam do novo colectivo performativo criado em Leiria.

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Querem começar por explicar o que é a Veia?
Idalécio Francisco – Se calhar é melhor dizermos já o que não é: uma companhia de teatro.
João Costa – É um colectivo performativo, que junta várias áreas. Utilizamos a nossa formação, as nossas valências, e tentamos misturá-las em prol dos eventos.

Quando começaram a falar uns com os outros sobre a Veia, falavam de quê?
João Costa – Tivemos a sorte de ter alguns professores, sobretudo uma professora, que nos motivou. Ao fazer o mestrado, percebi por que não gostava assim tanto de certo tipo teatro, o teatro do entretenimento.
Sandrine Cordeiro – Muitas vezes não gostávamos daquilo que víamos. E efectivamente tivemos professores que nos falaram de novas escritas para teatro. E isso interessou-nos muito.

A ideia é romper com as estruturas narrativas tradicionais?
João Costa – Sim, absolutamente. Mesmo que o nosso projecto não resulte, Leiria precisa de projectos destes. Achamos importante nesta altura aparecer um colectivo com esta linguagem, que as pessoas identifiquem.

E que linguagem é essa?
Sandrine Cordeiro – Uma linguagem mais contemporânea.
João Costa – Uma linguagem com mais verdade. E que tem base teórica, académica. Tem a ver muito com o processo. O produto às vezes pode parecer super improviso, mas há uma base muito pensada, estruturada, muito reflectida e conversada.

Vocês têm percursos ligados ao teatro, ao cinema, à música, à fotografia, à pintura... Como é que todas estas áreas vão funcionar neste colectivo?
Idalécio Francisco – São ferramentas.
Sandrine Cordeiro – Podem surgir todas como nenhumas. Nós estamos aqui também em exploração. Não nos interessa dar aquilo que já sabemos ou que já temos. Interessa-nos enquanto intervenientes podermos criar e colocar em causa os nossos limites. 

O improviso e o happening são as marcas principais do projecto?
Idalécio Francisco – São coisas diferentes.
Sandrine Cordeiro – O improviso que há acontece dentro da estrutura. Essa provocação é que nos interessa e enriquece em termos de experiência.
João Costa – É ler o público, sentir. Ou seja, nós não marcamos totalmente aquilo que vamos fazer, marcamos as ideias principais, os indutores, os limites, mas dentro disso pode acontecer muita coisa.

E pode acontecer entre vós e com o público.
Sandrine Cordeiro – Claro que sim. Tenho a certeza que grande parte do público na Arquivo [sábado, dia 12, na apresentação do primeiro romance de Paulo Kellerman] estava à espera de um lançamento de livro normal, com cadeirinhas, um moderador, e isso, de certa forma, é uma violência, colocar o público nessa situação. Mas o público também tem o direito de escolha. Pode escolher sair a meio, por exemplo. E a partir daí, quem fica, aceita as regras do jogo. E nós também temos de aceitar que alguém pode intervir e condicionar o nosso trabalho.

Pressupõe sempre uma intervenção direta ou indirecta com o público?
Sandrine Cordeiro – O facto de o público existir já é uma forma de intervenção. 
João Costa – Mas nós provocamos o público, como é óbvio. 

E essa relação é importante porquê?
Idalécio Francisco – É transversal a nós, enquanto colectivo. A arte para nós tem muito a ver com o que o público sente e também com lermos o que o público nos transmite. Pode ser alegria, tristeza, repulsa. Faz com que consigamos entrar noutro nível. 
João Costa – Jacques Rancière fala do espectador emancipado, e nós queremos trabalhar com o espectador emancipado. Mas o espectador emancipado tem que se educar. Outra coisa muito importante: a Veia não quer um palco para fazer as coisas. Vai e dá, onde estiver. 

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