Opinião
Deixar o mundo melhor
Estou certa de que já vivemos, mesmo que fugazmente talvez, num mundo melhor do que aquele em que vivemos hoje
Hoje deixo um exercício para sonhar… Fechem os olhos… Imaginem que é um dia Verão, que está calor, muito calor e que há piscinas ao ar livre, crianças a brincar, famílias a fazer os seus pic-nic… Que há pessoas descalças na relva e muitas deitadas a ler, outras tantas a conversar, a trocar ideias, a criar em conjunto… imaginem os pássaros a cantar, flores perfumadas, música e artes em muitos recantos, pessoas felizes, nos seus comércios e nas suas rotinas do dia-a-dia… há universidades e gente que pensa, que partilha o conhecimento e busca todos os dias uma vida melhor e sonha com um futuro promessa…
Imaginem que é 31 de Agosto e que vão dormir em paz… Agora imaginem que na manhã que se segue, são levados, guetizados, amputados de rotinas e de vidas… levados para campos de concentração, onde os vossos cabelos são tornados têxteis e… os vossos pertences, tesouros e sapatos, ficam para a posteridade guardados em montras, deixando tantas histórias por contar… Vá continuem de olhos fechados… quase já conseguem sentir o cheiro…
Agora imaginem um dia em que as mulheres não podiam votar, ou não tinham direito à educação, ou que eram propriedade dos maridos… Dias em que as pessoas não brancas não podiam juntar-se alegremente, tornadas escravas, e, se em liberdade, tinham de ir a espaços de lazer diferenciados, não podiam ter negócios, escondendo-se na clandestinidade para sonhar um dia ser felizes… ter direitos, para além de deveres. Imaginem um país, ou países, em que quanto menos as pessoas pensassem melhor, em que não se fosse a à escola, e era proibido sonhar novos horizontes.
Um país que maltratava quem era diferente, apontando o dedo a escolhas religiosas, pessoais, a pessoas com algum tipo de deficiência… “os pretos”, “os maricas”, “os travestis”, “as rameiras”, e as que não queriam passar a vida a bordar e a cozinhar… como é que é possível… “os deficientes” castigos de Deus… e as mulheres a levarem dos maridos, porque a sopa estava quente, ou porque a sopa estava fria… Imaginem um país em que os nossos filhos iam à tropa e depois à guerra… e os que fugiam, e os que eram apanhados e torturados… e castigados e, e, e… e que se ensombravam os dias, com uma banalização do mal.
Pois… Podem abrir os olhos… Pareceu-vos assim tão distante? Hum… mas continuamos a tolerar o que tem acontecido à nossa volta? Continuamos a chamar palhaço ao árbitro porque é o mundo do “futebol”… a aceitar que o nosso/a namorado/a nos vigie ou nos grite, porque é “só” gritar…, a destilar ódio escondidos nas redes sociais, porque cara a cara já é outra loiça, que os miúdos se agridam, ou queimem, ou se molestem porque são coisas de miúdos… e que os gigantes que mandam no mundo façam crescer os seus umbigos, subtraindo à democracia, desrespeitando as convenções, que outros gigantes no coração e na valentia nos deixaram de legado um dia…
Estou certa de que já vivemos, mesmo que fugazmente talvez, num mundo melhor do que aquele em que vivemos hoje… e de que será o nosso papel mais urgente, cuidar de deixar aos nossos, um mundo melhor.