Editorial
Férias para a estupidez, por favor
O momento pede coesão, responsabilidade e civismo. A estupidez pode tirar férias.
É incrível como é que numa altura como a que vivemos haja pessoas a dedicarem-se a criar notícias falsas sobre o Covid-19, agravando o clima de medo e de tensão.
Num momento extremamente delicado com consequências difíceis de prever, em que seria importante manter alguma calma e discernimento, há quem tudo faça para amplificar o drama e lançar o pânico, fazendo correr pelas redes sociais factos inventados, declarações deturpadas, denuncias de falsos médicos e enfermeiros, teorias da conspiração rocambolescas e cenários apocalípticos, que mais não fazem do que agravar o momento, já de si difícil, que se vive.
As motivações por trás disso são difíceis de descortinar, pois não se percebe o que poderão ganhar com essa tentativa de lançar o caos.
Ou são pessoas com alguma perturbação mental grave, ou trata-se de maldade pura, de tirar prazer com o sofrimento dos outros, ou então, simplesmente, estupidez, que infelizmente grassa por aí.
O problema, no entanto, não está só nessas pessoas, que se fossem deixadas a falar sozinhas nada do que fizessem teria grande impacto.
Mas como as barbaridades que colocam na internet são prontamente partilhadas por pessoas menos informadas, mas também pelos profetas da desgraça e por tontos sem qualquer espírito crítico, a mentira espalha-se a uma velocidade muito superior à do próprio vírus, acabando por infectar a opinião pública e provocar atitudes absolutamente irracionais.
Por outro lado, temos actualmente inúmeras pessoas que se sentem especialistas em infecciologia e em pandemias, prontas a dar os melhores conselhos e a fazer as análises mais certeiras, como temos também muita gente que encarnou a figura de agente dos serviços secretos, sempre com uma informação privilegiada que mais ninguém tem e que sabem estar a ser escondida pelo Governo ou pelos hospitais.
Informação essa sempre vinda de fontes seguras, como o vizinho que tem um primo a trabalhar no hospital, ou a empregada da mãe de um senhor amigo do comandante dos bombeiros.
E é assim, sob este cocktail explosivo, a que se junta ainda a excitação do momento, que fez muitas vidas cinzentas despertar, em que boa parte da população se mantém informada sobre o que está a acontecer, apesar das conferências de imprensa diárias do Governo e da Direcção-Geral da Saúde, e do trabalho profissional que os diferentes órgãos de comunicação social têm desenvolvido.
Seria um grande contributo para o momento que se baixasse o ruído à volta do Covid-19 e se deixasse que cada um desempenhasse o seu papel sem perturbações desnecessárias, pois se o que vivemos não é bom, o que está para vir no curto prazo, como tem alertado o Governo, não será melhor.
O momento pede coesão, responsabilidade e civismo. A estupidez pode tirar férias.