Opinião

O antes e o depois

12 fev 2021 15:49

Esta constelação de estrelas considera imprescindível e urgente a criação de uma agenda, fundada na chamada economia verde, para fazer face à destruição da economia de quase todos os países do mundo.

Enquanto nas redes sociais e, por arrastamento, nas televisões, um pouco por todo o mundo, abundam prognósticos de que os «loucos anos 20» do século passado se virão a repetir brevemente, podemos constatar que, noutros palcos, outros atores debruçam-se interessadamente, na dupla aceção do termo, sobre as grandes questões do nosso futuro coletivo.

Recentemente, o príncipe Carlos de Inglaterra, juntamente com Klaus Schwab, mentor do fórum económico mundial que se reúne anualmente em Davos, na Suíça, vieram apresentar ao mundo uma proposta para um futuro mais justo, resiliente e sustentável, que mereceu a designação de «Great Reset».

A esta iniciativa juntaram-se António Guterres, enquanto secretário-geral da ONU, e Kristalina Georgieva, atual diretora do Fundo Monetário Internacional.

A designação «The Great Reset» deve-se, talvez, ao título da obra do professor norte-americano Richard Flórida que se debruçou sobre o estudo da crise económica, de 2008, que ficou conhecida como “Crise do Subprime”.

O mentor de Davos recrutou, também, para esta sua cruzada, o francês Thierry Malleret, fundador do “Barómetro Mensal” que é um dos mais prestigiados e influentes boletins dos mercados financeiros, fundos de investimentos e consultoria económica.

Esta constelação de estrelas considera imprescindível e urgente a criação de uma agenda, fundada na chamada economia verde, para fazer face à destruição da economia de quase todos os países do mundo.

De facto, as principais economias do chamado mundo livre estão perante um vórtice no meio de um furacão, em que os Estados Unidos perderam mais de 30% do seu PIB, o Reino Unido aproxima-se dos 20%, tal como Espanha, enquanto a França, Itália e Alemanha ultrapassaram já largamente os 10%.

A somar a estes números, temos a astronómica taxa de desemprego que já ultrapassa os 100 milhões de desempregados.

Os meios de comunicação social, talvez por saberem que as pessoas só querem saber de futebol e fado, este último no sentido de fatum ou fatalidade no qual se enquadra a pandemia, têm ignorado por completo o «Great Reset» e dado, crescentemente, preferência aos futuristas que anteveem a repetição dos “loucos anos 20”.

Pode até ser positivo, pois mais do que nunca é preciso ânimo nestes tempos conturbados e depressivos, mas temo que os «loucos anos 20» se venham a concretizar, desta vez, mais pela loucura do ponto de vista psiquiátrico, do que pela euforia de um novo mundo risonho.

O período pós pandemia do século passado seguiu-se a tempos difíceis de guerra e pobreza quase universal, ao contrário do que ocorrerá no mundo após a pandemia atual que ocorrerá depois do melhor tempo da história humana.

Nunca, como antes da pandemia, houve, a nível mundial, empregos tão bem remunerados, nem tantas melhorias na educação e saúde, nunca os níveis de pobreza desceram tanto, nem os níveis de mortalidade infantil foram tão baixos, nem nunca ouve tanta literacia.

Como tudo será tendencialmente pior, resta-nos esperar que as pessoas sejam um pouco melhores.

Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990