Opinião
Amor simples
No meio desta aflição de folha branca com prazo a terminar, apercebi-me de que uma ideiazinha de amor, muito simples e muito básica, corriqueira mesmo.
A folha em branco estende-se, impávida, há dois ou três dias, e atira-me com tudo quanto tento lá deixar. Já experimentei Educação, Filosofia, Artes e Criação e, em desespero, arrisquei mesmo Festejos. Nada. Não quer nada. Olha-me umas vezes de frente, outras de soslaio, mas sempre imperturbavelmente branca e absolutamente indiferente às minhas tentativas.
Na verdade, quem a olha de soslaio sou eu, tentando apanhá-la distraída e sem defesa para um ataque de ideias, ou fazendo-lhe olhinhos mansos ou mesmo de carneiro mal morto, a ver se a comovo, se a convenço a deixar-se escrever. Mas não deixa. Cheguei mesmo a dar-lhe outra cor e a rabiscar-lhe umas palavrinhas a branco, julgando que lhe quebrava a altivez virginal e a convencia a mostrar-se mais dócil, mais colaborativa, mais prestável. Mas nada, nem pestanejou. No meio desta aflição de folha branca com prazo a terminar, apercebi-me de que uma ideiazinha de amor, muito simples e muito básica, corriqueira mesmo, surgia de tempos a tempos no meio das outras mais eloquentes, e parecia conseguir empoleirar-se naquela brancura inóspita com a simplicidade desarmante de um chazinho de camomila ao lado de uma flûte de champanhe.
Mas como, e porquê, escrever um texto de opinião sobre uma ideia de afectos muito simples, muito básicos, corriqueiros mesmo, quando há tanto assunto, e tão importante, a pensar?
*Professora de Dança
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