Sociedade

Arquivado inquérito a vandalismo no sítio arqueológico do "Menino do Lapedo"

9 jan 2023 11:14

Vandalismo foi detectado em Fevereiro do ano passado e os danos ocorreram no denominado “Testemunho Pendurado” e não no “Menino do Lapedo”.

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Vandalismo ocorreu no chamado “testemunho pendurado”
Ricardo Graça/Arquivo
Redacção/Agência Lusa

O Ministério Público (MP) arquivou o inquérito aos actos de vandalismo no sítio arqueológico do “Menino do Lapedo”, no concelho de Leiria, por não existirem “indícios sustentáveis” que permitam imputar a determinada pessoa a autoria dos factos.

De acordo com o despacho final do MP, consultado pela agência Lusa , “não se vendo que, neste momento, outras diligências possam surtir efeito útil por forma a alcançar tal desiderato, determina-se o arquivamento dos autos, por carência de indícios (…), sem prejuízo da sua reabertura, caso sejam carreados novos meios de prova”.

Em 19 de Fevereiro de 2022, o Município de Leiria anunciou que o sítio arqueológico Abrigo do Lagar Velho, em Santa Eufémia, classificado em 2013 como Monumento Nacional, onde foi descoberto o esqueleto do “Menino do Lapedo” (classificado, assim como os artefactos arqueológicos associados, como Tesouro Nacional), sofreu actos de vandalismo, tendo sido apresentada queixa à Guarda Nacional Republicana e relatada a situação à Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) e à Direcção Regional de Cultura do Centro.

Segundo a autarquia, os danos causados foram sobre o denominado “Testemunho Pendurado” e não no “Menino do Lapedo”, um esqueleto com cerca de 29 mil anos descoberto em 1998.

A descoberta do esqueleto marcou a paleoantropologia internacional, por se tratar do primeiro enterramento Paleolítico escavado na Península Ibérica e porque a criança apresenta traços de 'neandertal' e de 'homo sapiens'.

O “Testemunho Pendurado”, com cerca de 60 cm de espessura, preenche uma fissura estreita e alongada, na parede de fundo do abrigo cortada pela terraplanagem, situada 1,2 a três metros acima da superfície artificial do terreno. Os depósitos vieram a revelar contextos arqueológicos datados entre 24 mil e 26 mil anos.

No despacho, o MP referiu que das diligências de investigação realizadas pela Polícia Judiciária “resultou demonstrada a prática dos factos denunciados, o que terá ocorrido entre o dia 06 de Dezembro de 2021 e o dia 06 de Fevereiro de 2022, já que o último registo de visita guiada ocorreu naquele dia 06 de Dezembro, não havendo nessa data qualquer notícia de que o lugar tivesse sido alterado”.

Ainda segundo o documento, da avaliação efectuada ao “Testemunho Pendurado”, em Fevereiro de 2022 pela equipa da DGPC, “resultou que a área afectada era de cerca de 1 m de comprimento por 30 cm de altura e 12 cm de profundidade, correspondendo a um volume de terra retirada de cerca de 0,04 m3, tendo sido contabilizados mais de 500 vestígios arqueológicos, nomeadamente indústrias líticas, rochas termo alteradas e restos faunísticos danificados, vandalizados e/ou destruídos”.

“Porém, a factualidade denunciada é imputada a desconhecidos, sendo que, até à presente data, não se logrou descobrir a identidade dos autores do crime”, adiantou o MP, notando que “inexiste prova testemunhal apta à identificação cabal dos mesmos”, além de que da inspeção ao local “não resultaram vestígios aptos a tanto”.

Por outro lado, o MP salientou que “no local não existe captação de imagens de videovigilância, mas tão só visualização de imagens em tempo real, do sistema de CCTV da moradia contígua, não tendo o respectivo proprietário registado qualquer entrada não autorizada”.

“O local, ermo e com reduzida densidade populacional, é vedado ao público, com rede metálica, e portões apenas acessíveis aos gestores do projecto arqueológico” da DGPC e ao Município de Leiria, acrescentou o MP no despacho, datado de Outubro de 2022.