Desporto

David Rosa: "No Rio de Janeiro vai ser a fundo, mas até lá é risco zero"

16 jun 2016 00:00

No Brasil, o ciclista de 'cross country' de Fátima vai estar pela segunda vez nuns Jogos Olímpicos. Garante que vai ser a fundo.

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O David é um professor de Educação Física com a carreira interrompida para dar vida a este sonho. Hoje pode viver do cross country?

Sim.

Isso faz com que tudo o que venha a seguir fique em stand by?

Neste momento não penso sequer no que vem a seguir. Para já, foco-me apenas em 21 de Agosto. Tenho 29 anos e sei que a carreira de um ciclista de BTT durante até aos 35, 36 anos, talvez um pouco mais, mas não me preocupo com essa altura. Tenho mais em que pensar.

Do que se priva?

O que mais custa é a alimentação. Às vezes apetece-me comer porcaria e não posso. Tenho um dia por semana em que, se me apetecer, estrago-me. Se não começo a dar em maluco. Imagine o que é estar 340 dias por ano a privar-se de tudo e mais alguma coisa. Adoro Coca-Cola e não posso beber, detesto legumes e tenho de os comer

Para ter 52 quilos, não é?

Agora estou com 54! Estive de férias e lá está, em vez de ter um dia, foram sete a comer porcarias.

Nota quando tem um quilo a mais?

Noto, mas às vezes prefiro estar com meio quilo a mais e estar com força. Houve alturas em que parecia um cão rafeiro, magro, magro, mas como estava sem força, não andava nada. E houve alturas em que estava um pouco mais cheio e me sentia com mais força.

O que será um bom resultado no Rio?

Tendo em conta a minha evolução e os resultados deste último ano, incluindo os Jogos Europeus em que fui décimo, penso que um excelente resultado seria um lugar nos dez primeiros. Penso que num dia bom será possível. No mínimo quero fazer melhor do que em Londres. Não gosto de falar de resultados porque apenas controlo o que faço. Posso estar na minha melhor forma de sempre, mas se os outros também estiverem… O importante é sair de lá com a consciência tranquila de que deixei tudo na pista.

O furo é o pior inimigo do ciclista?

Claro. Acaba por ser comum e eu tenho tido bastantes. É algo que pode suceder, mas os furos só me acontecem quando não podem mesmo acontecer. Nesta última corrida da Taça do Mundo, na Alemanha, ia a recuperar e furei. Caiu-me tudo. Já ia em 11.º e pela forma como vinha provavelmente o meu resultado seria oitavo. Até à zona onde podia substituir a roda ainda era um bocado. Perdi muito tempo, voltei à pista para lá de 40.º e acabei a corrida já sem vontade nenhuma.

Há momentos em que derruba e outros em que dá mais garra?

Sem dúvida, mas depende das competições. Na Taça do Mundo era importante fazer um resultado fora de série. Quando percebi que já não ia conseguir, por causa do furo, claro que foi difícil manter a motivação. Mas se acreditar que ainda consigo lá chegar, então ainda me dá mais garra. São mais as vezes em que não tenho problema nenhum em voltar a apertar do que o contrário. Isso é raro acontecer. No Campeonato Nacional do ano passado, por exemplo, furei duas vezes e fui capaz de ganhar. Ia em primeiro, furei, perdi minutos e desci para quarto. Voltei a recuperar e no exacto momento em que ia passar quem estava a liderar furei outra vez. Tive de mudar a roda e ainda consegui ter forças para vencer.

Os furos acontecem mais ao David do que aos outros?

Acontece a todos, mas mais a uns do que a outros. Este ano só furei nas duas últimas provas que fiz. Prefiro pensar que não sou especialmente azarado nesse campo. Já me aconteceu andar a época toda com um pneu muito leve, de 300 gramas, que parecia papel e não furei. E numa prova em Fátima, já com medo que acontecesse alguma coisa, meti um pneu de 600 gramas e não é que furou?

Aquele tempo em que ia sozinho, competir mundo fora, já passou?

Agora já, mas até 2015 não. No final de 2014 tive a maior aventura nesse aspecto, quando fui à Crocodile Trophy, uma prova na Austrália. Eram nove etapas, cem quilómetros por dia, horas e horas em cima da bicicleta. Na primeira etapa, como nem carro tinha, fui de bike até à partida, pelo que não tinha rodas suplentes. Ia em primeiro quando ao fim da segunda volta tive um problema mecânico. Tive de fazer mais duas voltas a pé e perdi uma hora. Passei para último, mas ganhei a terceira etapa e já estava nos lugares que pontuavam para o ranking mundial quando na quinta etapa mandei um espalho em que me parti todo. Nem sei como me resolvi. Fui sozinho para o hospital, andava com o lado direito todo esfolado, mas mesmo assim tinha de acartar o saco e a caixa. Estava cheio de feridas e o voo de regresso foi tão longo que quando cheguei a casa e tirei o penso, a ferida já estava a infectar. Passei dois dias completamente despido para a ferida apanhar ar e começar a sarar.

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