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Dez artistas desafiados pela Fade In criaram arte motivados pela música

19 fev 2022 13:39

Exposição Ciclo de Música Exploratória Portuguesa – 10 Artistas Emissores, 10 Artistas Receptores

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A exposição no Centro Cívico inclui fotografia, escultura, pintura, instalação, literatura, ensaio e colagem
Ricardo Graça

Actualização: a inauguração da exposição foi reagendada pela Fade In para o dia 26 de Fevereiro. Texto publicado originalmente a 19 de Fevereiro. 

Porque cada som sugere uma ideia ou emoção, o Ciclo de Música Exploratória Portuguesa organizado pela Fade In em Leiria, por onde passaram nomes como Vitor Rua e Sei Miguel, é o tema da exposição colectiva a inaugurar este sábado, 19 de Fevereiro, no Centro Cívico e na sede da Leiria Cidade Criativa da Música Unesco, com dez trabalhos, de dez artistas, inspirados por outros tantos concertos.

Acessível até finais de Março, a exposição Ciclo de Música Exploratória Portuguesa – 10 Artistas Emissores, 10 Artistas Receptores inclui fotografia, escultura, pintura, instalação, literatura, ensaio, colagem digital e colagem analógica.

Em resposta ao convite da Fade In para materializar numa obra de arte a vivência do concerto, Vilma Serrano apresenta em imagem a música “muito complexa” de Vitor Joaquim, que considera “crua” e “forte”, mas, ao mesmo tempo, com “qualquer coisa que apela à fragilidade”.

As palavras, conceitos e desenhos registados num caderno durante a actuação na Igreja da Pena – “como se a música dele fosse a banda sonora de um filme que eu estava a imaginar” – estão na origem da interpretação que a fotógrafa da Marinha Grande propõe para o trabalho do compositor residente em Setúbal: “O amor, a saudade, a memória”, ou seja, “a memorabília” de cada pessoa.

Já o concerto de Calhau! motivou Pedro Trindade Ferreira para trabalhar “a efemeridade da performance” e daquilo “que fica como recordação, que é sempre um espectro”. O arquitecto de Leiria vai projectar um powerpoint com fotografias de uma performance que ele próprio protagoniza, “da qual o público não participa”. A vivência da música é assim comunicada “enquanto reconstrução, enquanto fantasma, porque na verdade já não há nada”. É a “memória de uma memória” e “uma espécie de simulacro da simulação”, que também tende para a efemeridade, como o momento dos Calhau! na Igreja da Pena, dado que o ficheiro, possivelmente, se tornará obsoleto no futuro, com a evolução da tecnologia.

No caso de João Siopa, cabe-lhe representar uma experiência que define como “esmagadora” – o concerto de HHY & The Macumbas no Teatro Miguel Franco, “impossível de absorver à primeira”. A escultura assinada pelo artista plástico originário de Alcobaça pretende convocar elementos que identifica no colectivo fundado por Jonathan Uliel Saldanha. Por um lado, primitivos e tribais, por outro, tecnológicos e contemporâneos, como um encontro entre “o industrial e a natureza”. Quatro colunas simbolizam as diferentes características detectadas em palco, ao observar a banda.

A primeira edição do Ciclo de Música Exploratória Portuguesa aconteceu entre Maio e Novembro de 2021 na Igreja da Pena, na Igreja da Misericórdia, na Igreja de São Pedro, no Museu de Leiria e no Teatro Miguel Franco, com concertos de Calhau!, Vítor Joaquim, Osso Exótico, Joana Guerra, Ensemble Decadente, Telectu, Sei Miguel Trio, João Vairinhos, Löbo e HHY & The Macumbas, experienciados, respectivamente, por Pedro Trindade Ferreira, Vilma Serrano, Pedro Miguel, Sílvia Patrício, Simão Matos, João Pombeiro, Paulo Kellerman, António Palmeira, Gui Garrido e João Siopa, que agora contribuem para a exposição no Centro Cívico de Leiria, localizado na Rua Barão de Viamonte (Rua Direita).

Também este sábado, é lançado o livro Ciclo de Música Exploratória Portuguesa – 10 Artistas Emissores, 10 Artistas Receptores, com 150 páginas, limitado a 75 exemplares, que “reúne fotos de Ana Veloso e Luís Lacerda registadas durante as actuações, textos que foram produzidos durante o Ciclo, e ainda testemunhos sobre o pensamento, o processo criativo e as sensações que os autores das obras que vão estar expostas tiveram durante os concertos, durante a fase de preparação de cada obra, e durante a sua respectiva execução”, explica Carlos Matos, presidente da Fade In, num artigo publicado no JORNAL DE LEIRIA.

Entretanto, o Ciclo de Música Exploratória está para ficar, com a segunda edição a realizar-se em 2022, muito provavelmente entre Maio e Outubro, também com uma dezena de espectáculos e nos mesmos recintos utilizados em 2021.

Com as restrições resultantes da pandemia a desaconselharem grandes eventos, como, por exemplo, o Extramuralhas, a Fade In empenhou-se, em alternativa, numa iniciativa de nicho, que confirmou as melhores expectativas, alcançando, no total, cerca de meio milhar de espectadores.

“No fundo, aproveitámos este ano quase sabático de 2021 para um projecto que já estava na gaveta há muito tempo, mas, por circunstâncias especiais, nunca tínhamos tido oportunidade de pôr em prática”, explica Carlos Matos. “Vamos continuar com este figurino de dar espaço aos artistas que exploram novas tendências musicais na área da experimentação” e que “tentam descobrir novas linguagens”.

A primeira edição do Ciclo de Música Exploratória Portuguesa assinalou duas décadas de actividade ininterrupta do Fadeinfestival, o projecto mais antigo da associação cultural Fade In.