Economia

Mercado de eléctricos usados carrega aos 102%, graças à desmistificação de receios

24 mar 2025 17:16

O mercado de eléctricos usados cresceu 102% em Dezembro, apesar das dúvidas sobre autonomia e baterias. Em Leiria, os vendedores dividem-se quanto à procura, mas há opções a partir de 15 mil euros

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Clientes de eléctricos em segunda mão, normalmente, “estão bem informados”
DR
Jacinto Silva Duro

O mercado não espera por ninguém e abomina lacunas, preenchendo-as rapidamente.

Esta é uma das principais regras dos mercados livres. A venda de veículos eléctricos e electrificados em segunda mão teve um arranque lento, mas, segundo os operadores contactados pelo JORNAL DE LEIRIA, está a chegar à velocidade de cruzeiro.

Apesar das dúvidas dos consumidores sobre autonomias, duração das baterias ou preços de manutenção, normais sempre que uma nova tecnologia se torna mais comum, o Panorama Mensal do Mercado Automóvel da cadeia StandVirtual revela que em Dezembro de 2024, a procura por carros eléctricos usados disparou 102%em relação aos valores registados em Dezembro de 2023.

A procura total por automóveis usados subiu 22% naquele mês, principalmente no Algarve (53%), seguindo-se o Norte de Portugal(26%) e Centro (23%).

A tendência de crescimento anual, desde Novembro de 2024,é de 17%.

Além de terem registado a maior subida na procura, os eléctricos também tiveram o maior aumento na oferta, que cresceu 53% em Dezembro, em relação ao período homólogo de 2023.

Paulo Carrito, responsável pela empresa Multidrive, instalada na localidade dos Pousos, no concelho de Leiria, explica que o stock de viaturas eléctricas ou electrificadas, em segunda mão, começa a ser“razoável”, tal como o número de clientes que se dirigem a este ponto de venda, em busca de um carro económico e com poucos custos de manutenção.

“O nosso desafio é adequar o preço às necessidades das pessoas, uma vez que o preço elevado é uma das questões que se colocam na aquisição destes veículos.”

Embora os automóveis premium, ricos em tecnologia e com 600 ou mais quilómetros de autonomia sejam os mais desejados, para quem percorre menos de 100 quilómetros por dia, qualquer veículo eléctrico servirá.

“O meu conselho é nunca comprar um carro com baterias abaixo de 50 kWh, que permitem cerca de 300 quilómetros de autonomia. Para uso mais intensivo, recomendo 60/64 kWh [400 kms]”, afirma e assegura que a desconfiança em relação a estes automóveis está a diminuir, à medida que se vêem cada vez mais a circular e o preço dos combustíveis a aumentar para valores altos.

“Tenho, actualmente um carro eléctrico com dez anos e 200 mil quilómetros, que continua a carregar à velocidade inicial e com a mesma autonomia entre cargas”, assegura.

“Com as medidas europeias que incentivam o comércio dos eléctricos e electrificados, com toda a certeza, iremos assistir a um aumento de viaturas destas a serem transaccionadas”, afirma o director comercial da Mcoutinho Oeste.

Paulo Carvalho olha com optimismo para o novo mercado que se está a abrir até para os concessionários oficiais dos fabricantes automóveis.

“Ninguém compra um carro eléctrico sem estar bem informado sobre o assunto”, diz e adianta que se trata de clientes que já fizeram contas e sabem quantos quilómetros percorrem e quanto irão poupar em combustíveis e manutenção.

“Mas atenção que os eléctricos também têm necessidade de manutenção”, alerta.

Com a chegada de mais marcas ao mercado e com novos modelos dos fabricantes que já estavam instalados nos pontos de venda, a quantidade de veículos eléctricos ou electrificados em segunda mão disponíveis irá aumentar, à medida que os carros convencionais vão reduzindo em número, até 2035.

Desmistificar ideias

Pedro Heleno, gerente da ABH, empresa especializada na comercialização de viaturas usadas e semi-novas da Ponte da Pedra (Leiria), é menos entusiasta.

“As pessoas não procuram estes carros, nós é que temos de os vender.”

O empresário explica que boa parte do seu trabalho consiste na desmistificação de ideias erradas que têm sido criadas, especialmente nas redes sociais, sobre estes automóveis.

“Dizem que ardem, mas os outros também ardem, dizem que as baterias morrem ao fim de dez anos, o que também não é verdade.”

Heleno adianta que, apesar dos elevados preços iniciais dos veículos novos, é possível adquirir os usados, já com autonomias entre os 200 e os 300 quilómetros, com preços a partir dos 15 mil euros.

“Muitos destes carros foram adquiridos, em 2018 ou 2020, ao abrigo do Fundo Ambiental, e depois alugados para as frotas de autarquias, como a de Leiria. Com a renovação dos contratos, as gestoras de alugueres de longa duração colocaram-nos no mercado”, explica Pedro Heleno.