Palavra de Honra | Ouço certezas em todo o lado quando cada vez tenho mais dúvidas
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Palavra de Honra | Ouço certezas em todo o lado quando cada vez tenho mais dúvidas
1 jun 2025 10:25
Afonso Rodrigues, músico
Já não há paciência... para especialistas. Seja em espaços de comentário, almoços e jantares ou, recorrentemente e até à exaustão, nas redes sociais, toda a gente sabe tudo sobre tudo. Só ouço certezas em todo o lado quando cada vez tenho mais dúvidas.
Detesto... quando o chá arrefece demais e passa da temperatura certa. Não gosto dele a escaldar, então aguardo pela temperatura certa, mas muitas vezes, enquanto aguardo, distraio-me a fazer outras coisas e passa demasiado tempo. Quando dou o primeiro gole... já está mais frio do que desejaria. Porra. Começa mal o dia. Também detesto a falta de empatia.
A ideia... é estar cada vez mais presente. Cada vez viver mais no momento e não me distrair tanto com com o que se passa à volta, com o que é acessório, ou até com os meus pensamentos.
Questiono-me se... consigo ser uma pessoa melhor todos os dias. Se consigo estar mais atento e disponível, ser mais ponderado e bondoso.
Adoro... sentir-me vivo. Adoro a luz da manhã, adoro perfumes. Adoro viajar, conhecer sítios, andar de mota, de carro. Adoro os fins de dia passados com amigos, aquelas duas horas antes e depois do pôr do sol. Adoro jantar fora, conhecer pessoas interessantes e aprender com elas. Adoro ouvir música, adoro escrevê-la, tocá-la. Adoro acordar em casa com os meus filhos, passar tempo com eles, mostrar-lhes coisas novas, vê-los felizes.
Lembro-me tantas vezes... do meu pai. Penso muitas vezes no que vivemos e no que teríamos vivido se tivesse ficado por cá mais tempo.
Desejo secretamente... agarrar na família e mudar de país. Simplificar a vida. Não ter tantas distrações a concorrer pelo tempo e energia disponíveis. Ir para o Sul de França, para África, para a Califórnia, para o Japão e começar tudo de novo, outra vez. Viver mais na natureza e menos na civilização. Ocupar-me de trabalhos mais manuais e menos intelectuais. Mas só às vezes.
Tenho saudades... de passar os dias a andar de bicicleta e a jogar à bola com os meus amigos em São Romão. E das férias do verão terem três meses.
O medo que tive... quando percebi que a vida era finita.
Sinto vergonha alheia... quando olho para a maioria dos políticos que rastejam aí pelo país e pelo mundo.
O futuro... "a Deus pertence", sempre ouvi desde pequeno. Infelizmente tenho muitas dúvidas acerca disso, o que me preocupa, porque se não acreditarmos que assim é, se acreditarmos que o futuro pertence a nós, estamos na mão das pessoas. E as pessoas não param de se matar por motivos que não têm verdadeira importância, e as pessoas estão a pôr demasiada fé na tecnologia, e as pessoas estão cada vez menos próximas das outras pessoas.
Se eu encontrar... o caminho, partilho a localização quando chegar.
Prometo... continuar sempre a tentar.
Tenho orgulho... na família.