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Palavra de Honra | Sinto vergonha alheia em situações que eu próprio não entendo

26 abr 2022 11:20

Pedro Oliveira, presidente da associação Albardeira

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Já não há paciência... para pagar propinas. Estamos em 2022, como é que ainda se paga mais de 600 euros ao ano por uma licenciatura. Mais, os mestrados nem têm tecto máximo definido, tendo alguns valores bem mais altos que 2.000 euros ao ano.

Detesto... fazer praia, aquele conceito de ir para a praia torrar ao sol. Não me interpretem mal, eu gosto de ir à praia, adoro ir ao mar e estar numa esplanada. Mas aquele “estar” na praia um dia inteiro não dá.

A ideia... de finalmente este ano estar ao meu alcance acabar um mestrado, após cinco anos de estudo, deixa-me com bastante entusiasmo para o futuro. Pensei muitas vezes que nunca conseguiria chegar aqui.

Questiono-me se... irei conseguir conciliar a minha vida cultural com a minha formação nas “engenharias” após terminar o mestrado. O facto de estar a estudar permitiu-me sempre conciliar os dois mundos, mas questiono-me muito se num futuro terei que escolher um deles.

Adoro... tascas. Acho que são um dos expoentes da cultura portuguesa. Mais especificamente, o “Zé do Raul”, em Ourém, é a tasca do meu coração, e diria até a minha segunda casa.

Lembro-me tantas vezes... daquele cartaz do Super Bock Super Rock 2011. Em 2011 estava longe de saber o que era o SBSR, mas o meu eu adolescente nunca conseguiu recuperar por saber que aconteceu.

Desejo secretamente... conseguir trabalhar na cultura a tempo inteiro. Agora já não é secreto, se calhar nunca foi, mas eu próprio demorei a vê-lo. Acho que celebrar a cultura é o brio das nossas vidas, seja ela na tasca, no teatro, no clube ou no salão.

Tenho saudades... do meu eu adolescente. Ou melhor, da inexistência de responsabilidades e preocupações na vida nessa altura, a tranquilidade e tempo para fazer tudo o que queria.

O medo que tive... quando fui estudar para o Porto. Senti-me bastante perdido e desamparado, num espaço de meses estava a estudar numa cidade e numa escola onde não conhecia ninguém, ao que acrescentou uma chapada de realidade relativamente aos custos que uma mudança destas acarreta.

Sinto vergonha alheia... em situações muito específicas que eu próprio não entendo. Tanto que até já me esforcei para explicar aos meus amigos e não consigo. Já aconteceu, em situações extremas, começar a chorar por sentir vergonha alheia, é um assunto muito complexo para mim.

O futuro... espero que seja bastante melhor do que aquele para que estamos a caminhar hoje. Guerras, alterações climáticas, pandemias, isto não tem sido fácil, parece que estamos há 20 anos a sensibilizar e alertar mas nada muda.

Se eu encontrar... o relógio que o meu pai me emprestou vou ficar bastante aliviado. Levei-o emprestado para saber as horas nuns exames e não sei mesmo o que que lhe fiz, vou ter de procurar com mais afinco mas a situação está bastante tensa.

Prometo... lutar sempre pela cultura e pelos seus agentes. Ao longo do meu percurso na cultura percebi que esta é uma das mais nobres causas, trabalhando a cultura consegue-se inclusão social, igualdade de género, combater o racismo e xenofobia e tudo quanto mais se queira.

Tenho orgulho... nos meus companheiros na nossa recentemente fundada associação em Ourém - Albardeira, Associação Cultural. Desde o início desta ideia que muitos se entregaram de corpo e alma ao projecto, rapidamente se gerou confiança entre todos. Costumo dizer, a associação pode acabar amanhã, mas toda a união e encontro que a sua simples criação potenciou já fez tudo valer a pena.