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“Pode muito bem ser a primeira curta-metragem feita em AI”. Novo filme de Bruno Carnide reflecte sobre a arte e a Inteligência Artificial

3 jan 2023 09:53

Realizador de Leiria recorreu a ferramentas de Inteligência Artificial para criar uma curta-metragem em apenas 24 horas

Na ficha técnica, só um ser humano tem o nome: Bruno Carnide, o autor da ideia. Tudo o resto são ferramentas digitais: Dall-E (para gerar imagens), FakeYou (vozes) e Soundraw (música), entre outras.

Janeiro, segundo Bruno Carnide, “pode muito bem ser a primeira curta-metragem feita em AI”, ou seja, Inteligência Artificial.

Com 2 minutos e 22 segundos, o filme reflecte sobre a capacidade da Inteligência Artificial para criar objectos que concorrem com a arte e questiona o futuro dos artistas num mundo em que parecem existir cada vez menos limites para a tecnologia.

Na derradeira cena, como em muitos momentos da história do cinema, o espectador é surpreendido com uma nova perspectiva.

“No primeiro dia do ano de 2023, em apenas 24 horas, “criei” aquela que pode muito bem ser a primeira curta-metragem feita em AI”, escreve o realizador de Leiria nas redes sociais.

“As imagens não foram captadas, desenhadas ou modeladas por ninguém. O texto não foi escrito nem falado por ninguém. A música não foi composta nem tocada por ninguém. Tudo foi gerado por computador com recurso apenas a palavras ou indicações que dei a estas AI's. No fundo eu só tive que ter uma pequena ideia, uma frase, e a habilidade de juntar tudo”.

E acrescenta: “A Inteligência Artificial está tão avançada, que mesmo que eu repita o processo novamente com as mesmas palavras, nunca irei obter o mesmo resultado, logo estou sempre a “criar” algo completamente único. Assim, num estalar de dedos”.

Na publicação partilhada ontem, Bruno Carnide escreve que “em 2022 a Inteligência Artificial (AI), no que diz respeito à criação de imagens geradas por computador, teve um crescimento gigante, ao ponto de hoje em dia qualquer um de nós com meia dúzia de palavras conseguir “criar” uma imagem digna de estar exposta num museu”, o que considera “preocupante e acima de tudo assustador, para todos os artistas”, para ele, enquanto cineasta, “e para o valor que a arte pode vir a ter num futuro muito próximo”.

“A ideia de como a AI pode vir a desvalorizar a arte e o criador deixam-me com muito medo do futuro”, argumenta.

Enquanto a dúvida paira no ar, decidiu experimentar as potencialidades da AI – e o resultado é Janeiro, uma curta-metragem iniciada e finalizada em 24 horas.