Sociedade

Quando for grande… não quero ser professor

20 jun 2019 00:00

Profissão perdeu prestígio e já não serve para ascender socialmente.

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Há umas décadas, ser professor era prestigiante e dava status. O conhecimento não estava à distância de um clique e ensinar era uma forma de ascender socialmente, porque se tinha acesso ao conhecimento e à cultura, longe das famílias mais humildes.

A desvalorização do sector têm-se vindo a intensificar e hoje são poucos aqueles que querem ser professores. “O estatuto social dos professores era mais sensível no caso do ensino secundário, porque implicava um curso universitário na maioria dos casos, uma situação minoritária da população. No ensino primário, a feminização é quase total desde o início do século XX e esse estatuto era mais relativo”, refere Paulo Guinote, docente e autor do blogue O Meu Quintal.

Isabel Flores, investigadora do ISCTE, afirma que os jovens escolhem uma carreira tendo em conta a “probabilidade de emprego e o nível salarial que poderá atingir”. “Ser professor apresenta uma probabilidade de emprego quase nula e ninguém enriquece com o salário. Tem a agravante de não ser uma profissão facilmente exportável como é o caso dos engenheiros, enfermeiros, médicos, gestores e outros. A questão da língua, da cultura e do conhecimento curricular de cada país constituem fortes barreiras. África lusófona poderia estar interessada em contratar, mas os salários são miseráveis”, acrescenta.

Segundo Isabel Flores, não será fácil atrair mais pessoas para uma profissão que “não emprega”. “A médio prazo a forma de a tornar mais atractiva será torná-la mais competitiva à entrada, em que os candidatos são valorizados por diversas dimensões (que vão além da média de licenciatura) e ser professor se possa tornar uma profissão de acesso difícil - novos diamantes. De qualquer forma trata-se de atrair melhores alunos e não mais alunos. Temos de planear as necessidades do sistema e reestruturar a entrada na profissão - uma luta que irá pôr os pressupostos dos atuais sindicatos em causa”, sublinha.

Em relação ao prestígio e ao status, Isabel Flores recorda que “à medida que há muitos, deixam de ser diamantes para ser seixos na praia...”, “é natural que o encanto desapareça”. Ainda assim, “a nível salarial, apesar de ganharem relativamente poucoainda ganham cerca de 25% acima de uma carreira de técnico superior da administração pública (salário bruto de entrada 995 em 2019 e máximo 3364), com qualificações semelhantes”.

Não obstante, Gonçalo Pereira, 18 anos, sonha em ser professor de Matemática. A paixão relaciona-se com o facto de gostar de “ensinar os outros” e ajudar a prepará-los para o mundo. “O ensino é muito importante. Os professores têm uma importância enorme que nem sempre é valorizada. O trabalho deles sempre me fascinou, sobretudo a forma como se empenham e se dedicam à planificação das suas aulas para transmitirem o conhecimento aos alunos. Gostava de poder fazer o mesmo, ou até melhor.”

Reconhecendo que a classe está cada vez mais envelhecida, Gonçalo Pereira, que terminou há dias o ensino secundário e está a preparar a entrada no ensino superior, reconhece que as aulas são muito expositivas.

“Mesmo os professores que tentam fazer algo diferente, nem sempre os programas permitem. As aulas deveriam ser mais práticas para envolver mais os alunos. É preciso adaptar a escola aos diferentes alunos.”

Esta desvalorização, a falta de emprego, a instabilidade da colocação em escolas distantes de casa, já fez Gonçalo Pereira começar a repensar o curso a seguir. “Estou a equacionar seguir algo ligado à economia e gestão e ficar com a docência como plano B. Até poderá surgir a oportunidade de dar aulas

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