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Victor Torpedo: "Cada um tem a sua história e a nossa é mesmo a desgraceira total"

29 abr 2016 00:00

Documentário sobre os Parkinsons passa amanhã (dia 30) em Leiria e recorda o êxito da banda punk portuguesa em Inglaterra.

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O documentário sobre os Parkinsons que passa em Leiria no próximo sábado (dia 30) foi ideia de quem?
Victor Torpedo: Da realizadora. A cena dela é mesmo de fã. E começou a filmar por causa dos Parkinsons. Ao segundo concerto que a gente deu, decidiu comprar uma câmara de vídeo.
É a história completa, sem censura?
Sem censura, claro. Da nossa parte não houve qualquer restrição. E há ali coisas muito pesadas.
Por exemplo?
A decadência da banda. As derrocadas são sempre mais interessantes para quem está a ver, para quem as sentiu é um bocado diferente. As desilusões, os sonhos a desfalecer, a depressão. Quem passou por elas sente mais.
Também olham para trás com orgulho ou não?
Claro, muito orgulho, mesmo. Sentíamo-nos o Cristiano Ronaldo do punk-rock, no sentido que demos um bocado de cool à imagem que se tinha lá fora dos portugueses. E no filme está inerente isso: foi uma banda portuguesa, nós, a dar o kick à nova cena inglesa.
A derrocada acontece porquê?
Nunca fizemos concessões. Isso é que me chateia mais: é sempre provocado através do business [a indústria musical]. E em Inglaterra a cena é muito forte e acaba por estar fora do teu controlo. Agora, que já vi o filme várias vezes, a derrocada é a parte que gosto mais. É uma história tão repetida, de tantas bandas, que dá gozo ver. Cada um tem a sua história e a nossa é mesmo a desgraceira total, no bom e no mau sentido.
Há várias descrições deliciosas das vossas actuações ao vivo, comparações aos Stooges e aos Sex Pistols, mas a melhor, provavelmente, é de um jornalista inglês que escreveu isto: "Vão vê-los antes que sejam presos". Londres já não estava preparada para uma banda assim?
Foi o Simon Price, no Guardian. Ele escreve isso talvez no concerto mais importante, em que acaba tudo à porrada e somos expulsos do sítio. É muito engraçado que agora há cinco meses, quando foi o lançamento do filme em Londres, tocámos no dia a seguir em Brighton. Um ambiente incrível, aparecem 10 betinhos vestidos com pullover tipo Natal que partem aquilo tudo. Passados 15 anos que não nos vê o Simon Price estava a levar porrada outra vez. Os Parkinsons têm essa coisa. Por isso é que dá gozo tocar numa banda destas.
Foi a pancadaria, o caos, a rebeldia, a nudez, que construíram a vossa audiência?
A gente saiu de Portugal e não conhecia uma única pessoa em Londres. Tínhamos uma história de 10 anos com os Tédio Boys, mas ali era a estaca zero. Dá-me um orgulho imenso. Acho que vingámos porque todos nós estavámos a lutar pelo mesmo ideal há anos. As cenas musicais são cíclicas, havia uma ressaca dobritpope nós já estávamos a fazer o oposto. Quando chegamos lá as pessoas começam a pensar: "Olha, o rock 'n' roll era assim. Afinal isto é mais excitante do que os Placebo".

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Para ver sábado (dia 30) em Leiria
"Karaokeé talvez o meu projecto mais importante"
Das cinzas dos Tédio Boys, Victor Torpedo (guitarra) e Pedro Chau (baixo) voaram para Londres, onde já estava o vocalista Afonso Pinto. Ali formaram os Parkinsons e em menos de um fósforo conseguiram o impossível: um projecto punk de sangue português era a banda que todos queriam ver ao vivo, com concertos lotados, críticas nos jornais e revistas mais importantes, tempo de antena nas rádios e passagens por festivais míticos como Reading, Leeds e Glastonbury. Amanhã,sábado, 30 de Abril, pelas 22 horas, o documentário A Long Way to Nowhere passa no Teatro Miguel Franco, em Leiria, para contar toda a história da banda mais selvagem de sempre, através do olhar da realizadora Caroline Richards. Antes, durante a tarde, o Victor Torpedo Karaoke Show pára no Covil da Preguiça, na Rua Comandante João Belo (17 horas), a fim de inaugurar a exposição Mr. Esgar Jukebox's, da autoria do artista Esgar Acelerado. Neste projecto, que já deu à luz um álbum triplo, Victor Torpedo compõe e grava todas as músicas, que são depois apresentadas em palco no formato karaoke, com projecção multimédia. "Se calhar é o projecto mais punk que alguma vez fiz", refere. "E de certa forma é um processo niilista de auto-destruição, até da minha imagem. Porque toda a gente me liga à guitarra e eu estou ali a desconstruir isto. No princípio foi muito difícil, continua a ser duro, mas dá-me um gozo imenso, porque é um show de afronta e colorido e ao mesmo tempo é muito triste, há uma mistura de emoções muito grande". A festa só acaba depois das 23:30 horas, com o dj set da Chaputa! Records e do próprio Vitinho no Praça Caffé.