Editorial
A luta de Abril é agora outra
Uma palavra também para a paz política que tem havido durante este período, com os principais partidos da oposição a perceberem a importância do que está em causa e a inibirem-se de guerras tão desnecessárias quanto contraproducentes nesta altura.
Poucos pensariam possível que, após a liberdade conquistada em 1974, iríamos alguma vez passar um 25 de Abril com tantas restrições de mobilidade e sociabilização. Não há, no entanto, nada a dizer. Os tempos a isso obrigam.
A luta faz-se actualmente contra a ditadura do vírus, que todos esperamos conseguir neutralizar o mais rapidamente possível, sendo essa a grande causa que mobiliza agora os portugueses.
E a verdade é que, salvo raras excepções, a resposta tem sido exemplar, bastante mais assertiva do que a de muitos países mais poderosos e ditos mais desenvolvidos, o que não deixa de abonar a favor da nossa democracia e do que Portugal conseguiu construir nas últimas quatro décadas e meia.
Do trabalho incansável do pessoal médico, a todas as pessoas que não deixaram o País parar, passando pelos muitos voluntários que têm apoiado os mais frágeis, mas também pela esmagadora maioria da população que tem acatado e respeitado as indicações dos responsáveis de saúde, a reacção à pandemia tem sido forte e corajosa, mostrando uma nação unida, responsável e crente nas suas instituições.
Uma palavra também para a paz política que tem havido durante este período, com os principais partidos da oposição a perceberem a importância do que está em causa e a inibirem-se de guerras tão desnecessárias quanto contraproducentes nesta altura.
Ou seja, apesar do confinamento a que estamos obrigados, quem esteve na linha da frente do 25 de Abril pode sentir orgulho no País que libertou e na população que lhe dá identidade, que tem mostrado estar à altura do desafio do momento.
Resta saber que aprendizagens vamos conseguir reter deste período que nos possam ser úteis no futuro, para termos um País ainda mais coeso e com a liberdade a chegar a cada vez mais pessoas, nomeadamente àquelas que têm vivido amarradas pela pobreza, pela solidão e pelo esquecimento.
Se a generosidade, a solidariedade e a cooperação que ganharam força neste estado de emergência perdurarem e se afirmarem como uma matriz da nossa sociedade, caminharemos, certamente, para um País onde a liberdade será mais profunda e onde os princípios de Abril estarão ainda mais presentes. 25 de Abril, sempre!