Opinião

Dos três C’s de Alcaraz à fé que nos deve mover

20 out 2022 20:10

Orgulho-me de ter tido formadores de uma outra geração, equiparável à dos nossos avós, que souberam ser grandes e de estar à altura dos desafios lançados por uma Igreja em solidificação

Temos de fazer e sentir mais. Sublinhar as histórias de quem e a quem a fé transformou em seres de eleição. Revisitar o passado sublinhando, no presente, a acção dos que foram e são inspiração. Com alguns pés de barro mas a experiência do humano, em cada um de nós, é matriz inspiradora para os momentos em que a avaliação alheia se impõe e os devaneios sobre a perfeição nos tentam.

Orgulho-me de ter tido formadores de uma outra geração, equiparável à dos nossos avós, que souberam ser grandes e de estar à altura dos desafios lançados por uma Igreja em solidificação após um 25 de abril libertador mas também meio de muita dispersão.

Recordo e louvo a equipa de formadores do Seminário de Leiria dos finais do século passado, liderada por um Augusto Pascoal, depois por um Américo Ferreira, com um Augusto Gonçalves, Carlos Silva, João Trindade, Adelino Ferreira e, outros, que por lá foram dando o seu melhor. Todos padres. Homens exigentes que, por vezes, não nos deixaram ser jovens por que queriam e exigiam a perfeição que a idade ainda não nos permitia e a estrutura moral, ainda em construção, já queria mas, nem sempre, aguentava.

Homens que partilhavam a memória viva dos seus educadores, da sua Diocese de Leiria de quem tinham bebido a história e aceite a noção de serem protagonistas do então e do futuro que já lhes passava pelas mãos. Razão que os levava a ser criteriosos na escolha dos “melhores”. Com critérios, hoje, fora da norma... Ora porque estudávamos pouco, ora porque na destreza musical ficávamos muito aquém do que a um futuro sacerdote se exigia, ora porque as capacidades para a filosofia não eram muito inspiradoras, ora porque a adesão às modas e tendências pareciam exacerbadas.

Muitos éramos ou fôramos os que tínhamos entrado na ala nascente e poucos os que viriam a sair da ala poente já homens e quase (ou já) padres. Um pouco por tudo isto continuo a advogar que somos terra de missão mas ainda não a precisar de quem vem de fora para fazer missão na nossa terra. Serão bem-vindos, mas faltar-lhes-á sempre História. Da que se transmite nos bancos da memória e nas conversas à mesa de jantar ou nos “recreios” que só os internatos permitem. Os tempos são outros e os contextos formativos também.

Esta formação entrava-nos pelo ser e fazia de nós os primeiros críticos uns dos outros. Sim. Paróquias temos que os seus presbíteros (cuidadores da construção comunitária) têm de ser de cá, estudado cá, bebido cá os anos recentes de pastoral e suas tentativas. De conhecer algumas dinâmicas de alguns secretariados, de perceber a ação de algumas das comissões nomeadas para fazer e não para adiar, de ter experienciado o caminho sinodal quando, de facto, aconteceu para além do disfarce do putativamente acontecido e desta ou daquela iniciativa ou relatório final. Sem carreirismos. Muito mais ao serviço da pastoral e das suas pessoas (povo de Deus) do que refém dum exercício pastoral ao serviço de meros egos ou limitações (de tempo) pessoais.

Exige-se tempo, história, relação, qualidade, inovação. Tanta coisa que se expressa em palavras bonitas mas, muito mais que isso, em palavras reveladoras... ao jeito de Alcaraz! Com fé!