Opinião
JMJ, ainda a procissão não chegou ao adro
As Jornadas Mundiais da Juventude estão aí à porta e vão ter um grande impacto (ou vários) na cidade de Lisboa, mas também em muitas das cidades e localidades do nosso País
A pandemia ajudou a que o assunto andasse meio apagado. Falava-se na organização e sua concretização. Houve adiamento de data. Mas, a verdade, é que as Jornadas Mundiais da Juventude estão aí à porta e vão ter um grande impacto (ou vários) na cidade de Lisboa, que as acolhe como cidade berço, mas também em muitas das cidades e localidades do nosso País.
Ou muito me engano, ou a nossa proximidade a Fátima, bem como a capacidade de acolhimento das nossas famílias, vão trazer alguns milhares na semana anterior à cidade de Leiria.
Entretanto, alguma comunicação social já começou com as conjecturas que só os “excéis” na mão podem e conseguem inspirar: da grande questão de quem paga tudo isto sempre aliada à preocupação moral de quem ganha com tudo isto.
Ganham as pessoas. As que participam, ainda e como jovens, e as que acolhem e são invadidas no seu dia a dia com uma força e dinâmica que muitas vezes escapa aos olhares e às rotinas do cidadão comum. De todos nós, independentemente da sua maior ou menor identificação com os eventos de cariz ou inspiração religiosos.
Sou dos que teve o privilégio de ter participado em 3 Jornadas Mundiais (1991, 1997 e 2000). Na memória ficarão para sempre a esperança e as palmas da multidão em Czestochowa, na Polónia, com um João Paulo II a ser canal da convicção para aquela geração. O Leste deixara de ser Leste e o Cristianismo, também aí, tinha lugar em liberdade. À juventude era entregue a missão de ser pioneira dessa revolução perestroiquiana.
Mais tarde em Paris, a cidade das luzes e do pensamento de tão iluminado que raramente dá espaço ao divino, percebeu-se o incómodo de uma sociedade muita aberta a revoluções mas pouco dada a perceber, e a aceitar, que jovens de todo o mundo pudessem andar nas ruas de Paris identificados com uma causa de muitas causas que dava alma à igualdade, à liberdade e à fraternidade. João Paulo II continuava o percurso de partilha das suas convicções maiores. Podem-se derrubar muros mas o pensamento e a presença humana serão sempre os entraves maiores. E entrave grande será também o peso que a história nos obriga a carregar. Porque ela mesma está cheia de momentos belos, mas também de capítulos que o pior dos humanos teria dificuldade em escrever.
Talvez por isso as Jornadas do ano 2000, as do Jubileu, aconteceram em Roma. E nas ruas desta, cheias de jovens, acreditou-se que a Igreja por muito envelhecida que estivesse, tinha agentes de esperança! João Paulo II, já muito envelhecido, não fugiu ao desafio e foi ícone de partilha da alegria e da certeza pela qual sempre lutara: a fé continuará a salvar o mundo. E o seu convite de sempre, manteve-se actual: “Jovens sede jovens”!
Voltando a 2022 e, sobretudo, o que nos espera em 2023. Jovens a serem jovens. Não meros ornamentos de alguns momentos eclesiais. Jovens à procura de concretizar aquele convite de sempre para ser vivido nos dias que correm. Jovens que, não sabendo tudo sobre a vida, sabem, melhor que ninguém, só há uma forma de transformar o mundo para melhor. Participando. Procurando. Criando. Sendo, duvidando, errando. Vivendo!
Haja espaço para eles e para nós. Nas nossas cidades e nas nossas vidas!