Opinião
Homo plasticus
Quanto mais leio e investigo o assunto, mais me assusto e mais temo pela saúde dos que cá vamos deixar
Sou do tempo em que era prática comum plastificar cartões vários, de forma a que pudessem durar mais tempo. Andávamos com aquelas carteiras com fecho de velcro cheias deles. Esse tempo já lá vai e agora é diferente, pois somos mais modernos e inteligentes. Agora, e para que não tenhamos trabalho, plastificamos os jardins com aqueles tapetes de “relva” sintética, de forma a não termos o trabalho de cuidar do jardim.
A aparência é tudo e as modas são para levar a sério. É chato ter de cuidar do jardim e, plastificando, já se tem tempo para ir de carro ao ginásio puxar pelo físico. Também é uma maçada termos abelhas no jardim cheio de flores, pois elas podem “morder”. Pior é termos espécies herbáceas, arbustivas ou arbóreas nativas no jardim, já que nem o nome delas sabemos.
A moda é para ser seguida por todos, cidadãos e entidades públicas e privadas. Desta forma podemos chegar a casa ou passar na rua e ver superfícies verdes só de nome, aparentemente limpas. Mas a realidade é que as aparências iludem.
Na realidade estamos a criar uma nova subespécie humana, o Homo plasticus. Mas nem precisávamos, pois já temos microplásticos no sangue, nas placentas, nos orgãos reprodutores e não só. Surpreendidos? Algumas das consequências na saúde já são conhecidas, outras ainda estão por apurar, dada a complexidade química dos vários tipos de plásticos e borrachas, os quais têm efeitos diferenciados na nossa saúde e no corpo humano.
E quanto mais leio e investigo o assunto, mais me assusto e mais temo pela saúde dos que cá vamos deixar quando chegar a nossa vez. Ah, e aquela ilha gigante de plásticos situada no Oceano Pacífico, já denominada como sétimo continente? Bem, essa é apenas a ponta do iceberg, pois nos fundos oceânicos já repousa uma quantidade muito superior de detritos plásticos de dimensões variadas.
Mas não acaba aqui, pois nos próximos anos a produção de plásticos vai aumentar muito mais. Vamos insistir em assobiar para o lado ou iremos nós conseguir mudar o paradigma?