Editorial

Limpar o sarampo

4 abr 2024 08:02

As autoridades de saúde insistem na importância da vacinação, um método que já provou ser eficaz

Pode não ser caso para alarme, mas é, sem sombra de dúvida, motivo de alerta. Este ano, já foram registados em Portugal tantos casos de sarampo como os que haviam sido documentados no total dos cinco anos anteriores, entre 2019 e 2023. A maioria dos casos manifestou-se em pessoas vindas de fora, com uma característica comum: não havia evidência de vacinação contra a doença.

Até agora, como se pode constatar na peça de abertura deste jornal, este ressurgimento da doença ainda não atingiu a nossa região. Mas é fundamental não facilitar. Basta recuperar os alertas da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) para perceber, que apesar das sucessivas chamadas de atenção, pelos menos nos últimos quatro anos, os surtos de sarampo na Europa têm vindo a aumentar de forma preocupante.

Entre 2016 e 2019, o número de mortes associado à doença tinha subido 50 por cento (o maior crescimento desde 1996), a nível mundial. E, no ano passado, a quantidade de casos confirmados na Europa tinha aumentado 30 vezes, face a 2022. Dois em cada cinco destes casos, segundo a OMS, verificaram-se em crianças com idades entre um e quatro anos.

Para contrariar esta tendência, as autoridades de saúde insistem na importância da vacinação. Um método que já provou ser eficaz ao contribuir para a eliminação desta e de outras doenças em vários pontos do Planeta, inclusive em Portugal, mas tem vindo a ganhar oposicionistas, também no nosso País.

Como nos dizia num texto de opinião, há duas semanas, a médica e investigadora Sónia Pereira, a vacinação, “mais do que um direito individual, é uma obrigação colectiva”. E uma minoria, por mais liberdade de escolha e de expressão a que sinta ter direito, não pode colocar em causa a restante maioria e até ameaçar a imunidade de grupo que tantos anos demorou a conquistar.