Opinião
O associativismo e a praia do Pedrógão
O retrato histórico e etnográfico do Pedrógão foi magistralmente descrito por Aquilino Ribeiro na sua obra «A Batalha Sem Fim»
Na costa da região, a Arte Xávega entra primeiro na praia da Vieira e só em finais do século XIX é que alcança a praia do Pedrógão. O primeiro registo na Capitania da Nazaré é do barco Santa Mónica em 1878. Mas é em 1931 que aparece a primeira companha de Arte Xávega no Pedrógão sob o nome de Sociedade de Pesca Boa Sorte composta por 40 homens.
O retrato histórico e etnográfico do Pedrógão foi magistralmente descrito por Aquilino Ribeiro na sua obra «A Batalha Sem Fim» de 1932. Segundo relatos e documentação coeva, é possível estabelecer os anos 30 do século XX como o início das preocupações habitacionais e urbanísticas na praia do Pedrógão. Em 1931, além do registo da primeira companha de Arte Xávega, foi constituída a Sociedade de Defesa e Propaganda da Praia do Pedrógão (SDPPP).
A SDPPP, sob um regime de associativismo, tinha como missão o progresso material, moral e social do Pedrógão. Os fundadores da SDPPP eram cidadãos da elite leiriense que visitavam ou tinham uma segunda habitação no Pedrógão. Os primeiros trabalhos da associação foi conceber, em 1932, um anteprojecto de modernização e urbanização da povoação.
A partir desta visão modernizadora da SDPPP foi elaborado, em 1938, pelo arquitecto Ernesto Korrodi o primeiro Plano Geral de Urbanização da Praia do Pedrógão. Vale ainda referir que é da responsabilidade da SDPPP a construção, em 1937, do paredão que fixou a frente marítima da povoação.
O desenvolvimento do Pedrógão é indissociável do associativismo. Só no ano de 2016 foram criadas duas associações: a AMA Casal Ventoso – Associação de Moradores e Amigos do Casal Ventoso e a Liga dos Amigos da Praia do Pedrógão (LAPP). Ambas têm como ojectivo a promoção, a defesa e a melhoria da praia do Pedrógão e do seu lugar mais a norte, o Casal Ventoso.
O desenvolvimento do Pedrógão mais para norte deu-se nos anos 40 e 50 do século passado e o alargamento da marginal do Casal Ventoso em finais dos anos 80 devido ao crescimento habitacional. A associação AMA tem o seu caso de sucesso no Casal Ventoso que é a Esplanada AMA, uma estrutura de restauração e gastronomia à beira-mar que em muito contribui, ao longo de todo o ano e não apenas na época estival, para a dinamização e revitalização do Casal Ventoso.
Mais do que o poder político, a história moderna da praia do Pedrógão mostra que a defesa do território também pode ser eficaz quando é feita pelos habitantes locais e regime associativo. Trata-se da promoção do bem comum.