Opinião
Vamos falar de xenofobia territorial?
Portugal estar como está, apático, rancoroso e com aversão ao debate
É, talvez, o melhor termo que tenho para ilustrar algo que representa uma das questões sociológicas mais singulares em Portugal. Sim, não se trata daquela xenofobia que todos conhecem e falam, alto ou sussurrando, mas sim de uma xenofobia que todos conhecem e não falam.
Provavelmente alguns de vós já foram alvo desta xenofobia, especialmente os que mais viajaram no Portugal das redes sociais para conhecer e debater questões várias. Há poucas semanas comentava sobre mobilidade na Marinha Grande e do outro lado veio um “antes de mais, se quiser opinar, vá opinar sobre a sua terra...”.
Esta frase veio de alguém com um curso superior. Semanas antes, e quando relembrei uma ilegalidade ocorrida em Alvaiázere, dentro de um povoamento arqueológico, perpetrada por praticantes (moto) de todo-o-terreno veio primeiro um “porque não tiras fotos na serra da tua terra...” e depois um “não é de cá, e sim, não é de cá, são verdades...”
Estas frases vieram de dois moços novos com um preocupante desconhecimento da lei e um evidente desrespeito pelo património histórico da “sua” terra. Na mesma “estrada”, ou seja de praticantes de todo-o-terreno (jipe), e quando falava de abusos na via pública no Norte do País, veio um “vai para a tua terra que lá é que é bom!”
São apenas alguns de exemplos sem fim de uma problemática que denominei como xenofobia territorial e que mostra o porquê de Portugal estar como está, apático, rancoroso e com aversão ao debate. É uma questão que dá pano para mangas para o/as sociólogo/as, e que merece um debate público.
Portugal não precisa nem desta nem da outra xenofobia, Portugal precisa sim de mudar mentalidades, mais abertas, cultas e respeitosas. Cada um de nós pode fazer a sua parte, sozinho ou não. Dar o melhor de nós e debatermos problemas sem nos preocuparmos sobre o que os outros ou outras vão dizer é muito, mas muito importante.
Como diz, de forma brilhante, John Freeman, na sua obra literária “Dicionário da erosão”, dar é a kriptonite da apatia.