Economia
Antes de usar a IA, é preciso ter maturidade digital
Linka-te – IT Conference 2025
“Não se deixem levar pelo populismo. Talvez 90% das PME não precisem de inteligência artificial (IA), mas de processos de maturação digital. Implementar soluções de IA só por implementar é pior a emenda do que o soneto.”
O conselho foi deixado pelo especialista em cibersegurança do Politécnico de Leiria, Carlos Antunes, na Linka-te – IT Conference 2025, evento organizado pela HLink, na semana passada em Leiria.
Antunes, que participava no painel Inovar com propósito: a nova era da inteligência artificial, reconheceu que esta versão da IA é a que, mais rapidamente, traz visibilidade e resultados, sobretudo na automatização de processos.
Contudo, são modelos que, isoladamente, não acrescentam valor de negócio. Mais necessários são os modelos de apoio à decisão ou de monitorização.
Outra ideia percorreu transversalmente o encontro que juntou ainda no painel César Duarte (Strongstep), João Mota (Void) e Marlos Silva (MC Sonae), com a moderação de Vítor Ferreira (Startup Leiria): a IA é inevitável e transformadora, mas o seu sucesso depende da preparação digital e estratégica das organizações.
Já o representante da MC Sonae, empresa que, pela sua dimensão, lida diariamente com grandes volumes de dados, reconheceu que a IA já é uma realidade consolidada dentro do grupo.
“Utilizamos Inteligência Artificial há muito tempo. É uma tecnologia madura, com modelos científicos robustos. Tudo o que traz eficiência e automação tem um potencial transformador e acrescenta valor ao negócio”, disse Marlos Silva.
Por sua vez, João Mota alertou para o risco de expectativas excessivas em torno da IA generativa.
“Estamos na iminência da desilusão. Mas, se olharmos mais à frente, vemos tecnologias como a computer vision com desempenhos sólidos. O retorno do investimento (ROI) pode ainda não ser visível, mas a disrupção já começou.”
O empresário defendeu que a IA não destruirá empregos, mas transformará o mercado de trabalho.
“A IA só eliminará postos de trabalho, se falhar. Se correr bem, vai criar empregos, diferentes dos de hoje.”
Entre as questões debatidas, esteve ainda o impacto do AI Act da União Europeia e se a UE não estará a criar travões excessivos, em comparação com a abordagem liberal dos Estados Unidos e China, já que uma regulação demasiado restritiva pode atrasar a competitividade europeia.
A Linka-te serviu ainda para discutir temas como cibersegurança, investigação de cibercrime, engenharia social, ESG, assistentes digitais e a aplicação da Inteligência Artificial (IA) na automação de processos empresariais.
Além das palestras e demonstrações técnicas, apostou na criação de redes de contactos e partilha de casos de transformação digital, num ambiente que aproximou empresas, investigadores e profissionais da tecnologia.