Covid-19
As máscaras que Maria José costura, a Marinha Grande que ajuda e a comida do amor para médicos e enfermeiros
Centenas de voluntários respondem aos desafios colocados pela Covid-19
Durante o horário de trabalho, agora em casa, na freguesia de Parceiros, Maria José Oliveira é profissional de seguros; no tempo livre, e com a ajuda das filhas, costura máscaras de protecção contra o novo coronavírus.
“Ainda hoje fui entregar aquelas que fiz durante o fim-de-semana. E trouxe mais material”, descreve ao JORNAL DE LEIRIA. “Foi a oportunidade que vi de poder ajudar”.
As 100 máscaras já terminadas por Maria José Oliveira vão contribuir para o objectivo do Município de Leiria de entregar 200 mil máscaras (não reutilizáveis) a 1.500 pessoas que trabalham em lares de terceira idade ou garantem apoio domiciliário, suporte a sem-abrigo e cuidados a cidadãos com deficiência, entre outras iniciativas de acção social e solidariedade.
O projecto chama-se Costurar com o Coração e está a mobilizar 500 voluntários só no concelho de Leiria, de acordo com o vereador Carlos Palheira, da Câmara de Leiria.
“As pessoas têm-se sentido muito gratas por participar”, afirma Carlos Palheira, antes de explicar que o Município está a investir cerca de 45 mil euros para cobrir as necessidades de 60 instituições. Ao todo, 90 quilómetros de elástico, 20 quilómetros de arame e milhares de metros quadrados de tecido não tecido (TNT).
A cada voluntário, é entregue pelas juntas de freguesia um kit com material suficiente para 100 unidades. O autarca lembra que actualmente é “muito difícil” comprar máscaras no mercado e impunha-se uma “solução eficaz” para quem mais precisa delas, hoje e nas próximas semanas.
A costura já era “um hobbie” para Maria José Oliveira, que despachou o primeiro kit de máscaras em três sessões. “Demora bem mais de cinco minutos a fazer cada uma, porque tem de se costurar à volta e colocar o arame e o elástico”. Tudo com o propósito de aliviar quem está mais exposto ao contágio. “Sinto-me uma privilegiada porque estou protegida [em casa] e outras pessoas não estão”.
Marinha Grande Ajuda
Na Marinha Grande, também se costura com afecto. O movimento Marinha Grande Ajuda, criado já durante a pandemia de Covid-19, reuniu 25 costureiras que em regime de voluntariado estão a produzir fatos em tecido não tecido (TNT), dirigidos aos profissionais do Hospital de Leiria e dos centros de saúde, para protecção contra o novo coronavírus.
Mas há mais, muito mais. Além dos fatos, o Marinha Grande Ajuda – dinamizado por um núcleo de cinco voluntários – já promoveu a aquisição de milhares de máscaras, viseiras, luvas, embalagens de álcool gel e termómetros de infravermelhos, entregues em lares, associações, bombeiros, PSP e unidades de saúde.
Baseia-se numa ideia simples, mas poderosa: identificar necessidades e resolvê-las com o apoio de mecenas. Até hoje, 15 empresas contribuíram – com compras directas aos fornecedores, sem dinheiro a circular pelo Marinha Grande Ajuda – e são 18 as instituições apoiadas.
O valor dos donativos ascende a 9 mil euros e será muito superior quando chegarem a bom porto as acções já iniciadas que vão permitir novas entregas nos próximos dias.
Para os fundadores do movimento Marinha Grande Ajuda, o estado de emergência provocado pelo novo coronavírus “é o desafio de uma geração”. Daí o desejo de agir para “proteger os profissionais de saúde e a população sénior”, ou seja, “as pessoas de risco”.
E como os impactos também são económicos, o próximo passo é guiar, nos meandros da burocracia, os particulares e empresas que pretendem accionar as medidas do Governo, no contexto da Covid-19.
Refeições e afecto
Entretanto, a corrente Amor com Amor se Paga leva refeições de restaurantes aos médicos e enfermeiros que estão na linha da frente do combate à pandemia. Uma iniciativa do Grupo FF (Mosteiro do Leitão, Mundo do Peixe e Grelhados do Monge) que só na semana de 6 a 12 de Abril fez chegar 923 refeições ao Hospital de Leiria (804), Área Dedicada Covid no Estádio de Leiria (76) e Unidade de Saúde Familiar da Batalha (43). A estes números, acrescem 52 folares de Páscoa e 802 snacks. É o Hospital que as distribui internamente.
No último fim-de-semana, além dos folares, não faltaram as amêndoas. E almoços especiais no domingo, como manda a tradição. Zita Freire, do Grupo FF, explica que a prioridade é “ajudar da melhor forma quem está na linha da frente” e “muitas vezes longe da família” – os médicos e enfermeiros. “Dar aquilo que sabemos fazer, que são as refeições”.
As primeiras 14 (arroz de pato) saíram no dia 27 de Março, com destino à urgência Covid-19 do Hospital de Leiria. Daí para cá, o movimento continua a crescer. “Tudo confeccionado com o mesmo padrão de qualidade, tal e qual como se fosse para o restaurante”, porque é “a forma de lhes chegar um bocadinho de afecto e da nossa gratidão”, sublinha Zita Freire.
São já 42 os parceiros envolvidos no projecto (sobretudo restaurantes), que vai entrar numa segunda fase: as empresas e a população em geral são convidadas a oferecer os ingredientes ou mesmo a pagar o custo das refeições, para que a comida do amor continue a chegar aos médicos e enfermeiros de Leiria e da região.