Desporto
Move milhares de milhões de euros e não existe vírus que o faça parar
As modalidades sentiram na pele o efeito do isolamento forçado. A excepção está nos eSports. Os desportistas disputam as partidas de FIFA defendidos por um ecrã de televisão
O mundo do desporto parou. Não há futebol, não há atletismo, nem andebol, muito menos judo ou karate. Alguns desportistas, muito poucos, conseguem fazer ainda algum tipo de exercício, sobretudo ciclistas e fundistas que têm na rua a sua melhor área de treino, mas a maioria tenta improvisar em casa ou lá no fundo, no quintal, quem o tem.
Não há hipótese. Todos vão ter de esperar que a nuvem passe e esperar que aquilo por que tanto treinaram tenha sido apenas adiado. Todos? Não! Há uma modalidade que resiste e continua a ser praticada por milhões e milhões em todo o planeta.
Uma modalidade que apenas nos últimos tempos foi assim considerada, mas que pelo número de praticantes e universalidade até pode vir a fazer parte dos Jogos Olímpicos num futuro não muito longínquo.
André Almeida é o director da secção de eSports da União de Leiria. Casado e pai de filhos, com 30 anos, é do Porto, mas reside já há algum tempo em Alhais, na freguesia do Carriço, no concelho de Pombal.
Jogou futebol a Norte, no Estrelas de Fânzeres e no Alunos de Meirim. Mais tarde rumou para a Suíça, onde era soldador, e porque os “emigrantes querem é poupar”, acabava por “passar mais tempo em casa do que na rua”.
Sempre gostou de tudo o que envolve tecnologia e um dia, no trabalho, um colega falou-lhe dos campeonatos pro-clubs do jogo FIFA, onde as equipas são constituídas por 11 jogadores, mais suplentes.
No fundo, como se fosse futebol a sério, com a diferença que cada um está em sua casa a jogar. Criou um clube e percebeu que tinha mais talento com as mãos do que com os pés.
Entretanto, regressou a Portugal, agora para a nossa região, e em Setembro do ano passado surgiu a possibilidade de se associar à União de Leiria.
Como portista ferrenho que é, sempre simpatizou com o símbolo do castelo. “Um clube que nos deu Mourinho, Derlei, Helton e Nuno Valente tem de ser olhado com um carinho muito grande”, explica.
Por isso, quando apareceu a oportunidade, sentiu-se motivado e apresentou um projecto “para fazer crescer ainda mais” o nome da União de Leiria no mundo dos vídeojogos.
Neste momento, após dez jornadas, a equipa do Lis, que alinha em parceria com a comunidade gaming GTZ, ocupa o sexto lugar da Liga 2, o segundo escalão da competição organizada pela Federação Portuguesa de Futebol, com quatro vitórias, outros tantos empates e duas derrotas.
O objectivo é subir na tabela, naturalmente. Por isso, “treinam todos os dias”, de “duas a duas horas e meia por dia”, para “poder estar em condições” de representar o emblema “ao mais alto nível”.
Aqui, “é tudo como no futebol”. “Há um treinador, o Sandro, que escolhe a equipa e a táctica. Antes do jogo cria um grupo online e dá a palestra. Claro que também há pessoal que fica insatisfeito por jogar menos”, conta André Almeida.
Por isso, apesar de a competição oficial da FPF ser a prioridade, a União de Leiria joga em duas outras competições internacionais – VPL e EFA – para poder “rodar” e, assim, todos tenham oportunidade de dar uns toques na bola.
Mas o mais espectacular por estes dias, em que o contacto humano é absolutamente proibido, é que esta modalidade pode decorrer com toda a normalidade, porque cada um joga a partida em solidão absoluta, separados e unidos por uma televisão, apenas com o comando na mão, seja no sofá, deitado na cama ou em pé, assim o stress o permita.
Na União de Leiria, de resto, o plantel é internacional e há jogadores separados por milhares e milhares de quilómetros: de Odivelas à República Checa, de Massamá à Arábia Saudita, do Montijo à Escócia.
O jogo, esse, vai continuar, até porque movimenta milhões. E a única ameaça é se todos milhões de pessoas que vão ficar em casa nos próximos tempos acabarem por entupir os servidores.
É que há milhões e milhões de gamers no mundo inteiro. A nível global, o mercado de jogos electrónicos – que não se resume ao FIFA - gerou 136 mil milhões de euros em 2019. Em Portugal, o gaming já vale 250 milhões...