Economia
Olivais cheios de azeitona e pouca mão-de-obra para a colher
Produtores recorrem a imigrantes para a apanha
A campanha deste ano está a ser excelente, com muita azeitona e de qualidade, comentam os produtores da região de Leiria. No entanto, falta mão-de-obra disponível para fazer a colheita.
São ainda as gerações mais velhas que assumem a tarefa, com a ajuda de familiares e vizinhos. Nalgumas zonas, são os imigrantes quem está a dar uma valiosa ajuda na campanha.
José Augusto Silva é presidente da Cooperativa de Olivicultores de Fátima e tem também ele algumas propriedades no concelho de Torres Novas, cerca de 20 hectares de oliveiras, de onde espera colher este ano aproximadamente 20 toneladas de azeitonas. “Quer em quantidade, quer em qualidade, está a ser um ano excelente”, conta José Augusto Silva.
Infelizmente, lamenta o olivicultor, “não há quem queira trabalhar nesta área”. “Vejo pelos meus netos, que já não querem”, exemplifica José Augusto Silva.
A solução, este ano, passou por recorrer aos serviços de dois imigrantes, naturais do Bangladesh. “Admiro-os, porque estão a fazer aqui, aquilo que eu fiz há 50 anos em França. Tenho confiança no trabalho deles. São dedicados, educados. Óptimos prestadores de serviços.”
Na Cooperativa de Olivicultores de Fátima, que já conta com mais de 1.100 associados – têm chegado mais nos últimos dias – trabalham nesta campanha 16 pessoas. E a falta de mão-de-obra também é um problema, refere o presidente.
“Mais de 80% das pessoas que estão a colher azeitona têm mais de 70 anos. Depois, quem pode, pede aos vizinhos, aos familiares, que tiram uns dias ou fins-de-semana para ajudar”, conta José Augusto Silva, temendo pelo desaparecimento gradual da actividade.
Pedro Gomes, que explora o Lagar de Ramalhais, em Abiul (Pombal), também está satisfeito com a produção deste ano. Ainda não começou a colher do seu olival, mas tem recebido azeitona do público, para transformar no seu lagar, e verifica que “há bastante azeitona e parece que dará bom azeite”.
“Apesar dos olivais cheios e de haver muito trabalho, todos se queixam que não há ninguém para apanhar”, partilha Pedro Gomes.
Também o responsável pelo lagar de Abiul observa que são pessoas de 60 e 70 anos quem continua a colher azeitona, alguns com a ajuda de filhos. Nalguns casos como actividade principal, noutros apenas para auto-consumo.
Mas Pedro Gomes tem visto algumas situações, onde filhos, de cerca de 40 anos, estão a herdar e a cuidar dos olivais dos pais, o que lhe deixa alguma “esperança” em que o sector da olivicultura mais tradicional não desapareça.
Natural do concelho de Pombal, Inês Gonçalves, de 25 anos, sempre ajudou a família a apanhar azeitona. Durante dois ou três fins-de-semana, juntam-se várias gerações para ajudar os avós.
Trazido do lagar, o azeite é dividido pelos familiares, para consumo próprio. Na sua opinião, dificilmente a actividade se manterá depois da partida das gerações mais antigas. “Vejo cada vez menos gente a ir à azeitona, não sei se os mais novos vão continuar”.