Opinião

Nem tudo são números... 

2 dez 2023 16:19

Crescendo e registando um elevado número turistas e de receitas, surgem dois desafios: a qualidade da oferta e dos recursos humanos afetos ao turismo

O novo relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) voltou a identificar o turismo como o propulsor da recuperação e do crescimento económico mundial, com 95% de turistas, comparativamente, aos dados da pré-pandemia (2019). Olhando para Portugal e para as previsões do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC) calcula-se que o setor das viagens e turismo em Portugal contribua, em 2023, com 40.400 milhões de euros para o Produto Interno Bruto (PIB), superando os 40.100 milhões de euros registados em 2019.

O Turismo de Portugal confirma que este ano vai ser batido o recorde de receitas da indústria do turismo, com valores previstos na ordem dos 23 mil milhões de euros. Como se conjeturou, em período pós-pandemia, as viagens estariam na linha de frente das vontades das pessoas. Portugal foi e continua a ser reconhecido e procurado como um destino turístico de excelência, como resultado dos investimentos privados e das estratégias políticas seguidas a nível nacional, regional e local.

Crescendo e registando um elevado número turistas e de receitas, surgem dois desafios: a qualidade da oferta e dos recursos humanos afetos ao turismo. Para além destes há um problema geral: as alterações climáticas. O recente relatório relativo ao Mosteiro dos Jerónimos e à Torre de Belém identifica a vulnerabilidade destes monumentos pelos efeitos das alterações climáticas.

Quando ocorrem chuvas torrenciais ou ondas de calor, o acesso das pessoas ao Mosteiro dos Jerónimos torna-se incontrolável. Já na Torre de Belém, com o aumento da frequência das tempestades, o impacto das ondas estão a causar danos na estrutura arquitetónica pondo em causa a segurança dos turistas.

Constituindo-se a experiência turística e a qualidade desta um fator de atração e de diferenciação dos destinos, estas ocorrências obrigam a que os responsáveis políticos reequacionem a estratégia da gestão da atividade turística. A “economia quer e deseja” manter a “velocidade de cruzeiro” procurando mais turistas e receitas.

Porém, tal não é possível sem que exista uma “receita” que reforce um planeamento sustentável em torno dos destinos e dos produtos turísticos, ajustado às alterações climáticas, em estreita articulação com as empresas, em torno do principal objetivo: assegurar o equilíbrio entre o Homem e a natureza e desta forma garantir a continuidade da atratividade turística dos destinos.

Mais do que números e investimentos, valorizar a qualidade e a exequibilidade da experiência turística, transpõe a mera equação económica, passando a ser a relação entre o turista e o meio ambiente que ditará o acesso aos recursos turísticos. Quais serão as justas e adequadas medidas que garantem a dita sustentabilidade? Estarão todos os protagonistas preparados para estes desafios?