Opinião

Soluções e caminhos da economia nacional

30 jul 2023 00:00

Não podemos esquecer que 99,7% das empresas portuguesas são PME, mas 96% têm menos de 10 colaboradores

Alguns dos problemas da economia portuguesa estão, há muito, identificados e diversos Governos têm tentado resolver parte deles (ainda que nunca de forma completa).

Uma das principais “dores”, identificada há décadas, era a falta de escolaridade e competências da população ativa.

No início dos anos 2000, Portugal tinha a mais baixa taxa de escolaridade da UE.

Cerca de 28% da população ativa tinha o ensino secundário ou superior, face a valores acima de 80% para os países da Europa de Leste (para os arautos do “Portugal na cauda da Europa”, parte da resposta reside neste facto).

Este problema parece estar em resolução, com a taxa de escolaridade do ensino superior da população residente, entre os 30 e os 34 anos, a atingir os 43% no 4.º trimestre de 2020, superando pela primeira vez a meta europeia de 40%, assumida no âmbito da Estratégia Europa 2020.

Um outro problema da economia nacional, cuja resolução parece suscitar anticorpos numa certa faixa da população, é o envelhecimento e consequente falta de população ativa.

Os últimos Governos “exibilizaram a imigração, facto que tem gerado muita tensão, mas que deve ser visto como uma oportunidade – sociedades multiculturais são mais inovadoras e produtivas (além disso, existe muito talento nesta onda de imigração).

A dimensão das empresas nacionais é um outro ponto fraco.

Não podemos esquecer que 99,7% das empresas portuguesas são PME (o que por si não é incomum face a outros países), mas 96% das empresas têm menos de 10 colaboradores e situam-se em setores tradicionais, posicionadas na cadeia de valor a montante, com dificuldades em gerar valor acrescentado, que possa justificar preços e margens elevadas, que permitam empregar, com salários razoáveis, a mão-de-obra mais qualificada que começa a abundar no País.

Dada a dimensão, estas empresas são incapazes de alavancar departamentos de I&D e inovação, que permitam enfrentar os desafios de uma Europa mais industrial e sustentável, mas também mais centrada no conhecimento.

Neste sentido, os sucessivos quadros de apoio e o PRR criaram instrumentos que obrigam as empresas a congregar-se (com outras empresas e entidades do Sistema Científico e Tecnológico), para inovar.

No que toca à falta de inovação de produto, existem hoje entidades como os Test-Beds, que vão permitir acelerar conceitos para o mercado (como o Test4Food, liderado pela Lusiaves e Startup Leiria, que visa criar protótipos tecnológicos na área agroalimentar).

A questão não passa então pela falta de identi cação de problemas (existe um, não abordado aqui, de dificil resolução, a distância geográfica do centro da Europa) ou na formulação de soluções criativas, mas sim pelas falhas na implementação dos instrumentos.

Será que entre Portugal 2030 e PRR conseguiremos finalmente corrigir essas falhas?

Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990