Economia

Em nove anos desapareceu uma centena de livrarias independentes

29 mar 2018 00:00

A venda de livros nas grandes cadeias de distribuição levou ao desaparecimento de inúmeras livrarias independentes, incapazes de igualar o poder negocial dos grandes grupos com as editoras

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Daniela Franco Sousa

Os últimos anos têm sido fatais para muitas livrarias independentes. A TSF anunciou recentemente que, até ao final de Março, há três baixas de peso para os leitores portugueses, com o encerramento da Pó dos Livros, em Lisboa, a Leitura, no Porto e a livraria Miguel de Carvalho, em Coimbra.

No início deste ano, encerrava em Lisboa mais uma loja histórica, a Livraria Aillaud & Lellos, que funcionava na rua do Carmo desde 1931. E em Janeiro, também, a Bulhosa Livreiros era declarada insolvente pelo Tribunal Judicial de Braga.

Na semana passada, foi a vez da Trindade, em Lisboa. Os responsáveis pela livraria informavam que o contrato de arrendamento terminou e que têm até Setembro para abandonar o número 36 da rua do Alecrim, onde o negócio já vai na terceira geração.

O JORNAL DE LEIRIA apurou junto do Instituto Nacional de Estatística a dimensão da perda. De acordo com os dados disponíveis, entre 2008 e 2016 o País perdeu 100 empresas de comércio a retalho de livros em estabelecimentos especializados. Em 2008 existiam 732 empresas do género em funcionamento, número que desceu para 632 em 2008. Embora nunca tenham deixado de inaugurar livrarias ao longo destes anos, o número de encerramentos destas lojas foi sempre superior ao das aberturas.

No último ano de que há registos, 2016, o INE contabilizou 47 nascimentos, para 67 mortes de empresas especializadas em comércio a retalho de livros.

Rendas altas e grande concorrência

“Chegou a hora da livraria Pó dos Livros 'celebrar o dia da liquidação total'. No dia 31 de Março de 2018, mais esta livraria passará a ser uma mera recordação, um pedaço de pó na memória de poucos”, anuncia Jaime Bulhosa no blogue da livraria.

E à Lusa, o sócio-gerente adianta os principais motivos do fim da sua loja. Por um lado, há “rendas altíssimas” que não permitem ao negócio dos livros sobreviver. Por outro, “é impossível concorrer com as grandes cadeias, com os descontos que elas fazem, e com as margens que nós temos”. Além disso, realça Jaime Bulhosa, a situação é ainda "mais complicada do que parece", devido à concorrência da internet: os livros técnicos, os que não são de ficção e que não são para ser lidos por inteiro, deixaram de ser vendidos, porque estão na internet.

Desde a fundação, em 2007, a livraria gerida por Jaime Bulhosa e Isabel Nogueira foi distinguida como Melhor Livraria Independente, pela Revista Lere a Booktailors, recebeu o prémio de Melhor Blogue de Livraria ou Editora da Blibie, e foi eleita a segunda Livraria Preferida de Lisboa, na votação promovida pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, com as Bibliotecas Municipais de Lisboa, em 2013. Clássicos, mas também livros raros e usados têm feito parte da oferta deste estabelecimento, que pretende recriar um ambiente próximo das tradicionais livrarias londrinas.

Ouvido pelo JORNAL DE LEIRIA, Joaquim Gonçalves, que tem encabeçado vários movimentos a favor das livrarias independentes (entre os quais Livros, é nas livrarias), partilha os argumentos de Jaime Bulhosa. Joaquim Gonçalves explica que “as grandes cidades estão a sofrer um ataque cerrado do turismo”, cuja factura tem sido o “aumento das rendas e a especulação” no mercado imobili&aa

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