Opinião

Estranhas notícias vindas de outra estrela

25 jul 2025 16:16

Talvez tenhamos no sonho a graça do amor, da paz e da unidade, revertendo a visão pessimista de que essas virtudes sejam inatingíveis

Tenho escutado repetidamente, pelo grito do seu vocalista - Damon Albarn -, a música «Strange News From Another Star» dos Blur, banda icónica da cena britpop e rock alternativo que há dois anos ressurgiu, relançando uma sonoridade inconfundível.

Quase 30 anos após a edição do álbum homónimo que integra a composição que agora ausculto com a mesma avidez da adolescência, o tema é actual pela reflexão profunda sobre os sentimentos de alienação, desespero e busca de alívio num mundo caótico.

A letra começa com o desejo de ser “lavado pelo mar”, metáfora para a necessidade de purificação e escape às pressões e ansiedade da vida moderna. A menção à “estrela da morte” sugere a ameaça constante e opressiva, que impede qualquer sensação de paz no planeta.

A canção aborda também a loucura e a violência, com a imagem de “dar armas aos loucos e alimentá-los com carne”. Esta é uma clara alusão à forma como os governantes lidam com a violência e a insanidade, exacerbando discórdias em vez de resolvê-las.

A ideia de “enterrar a estrela da morte milhas abaixo da terra”, simboliza o desejo de eliminar as ameaças em definitivo. O refrão, que fala de “notícias estranhas de outra estrela”, reforça o sentimento de desconexão e perplexidade.

O eu lírico (ou cada um de nós?), sente-se perdido e incapaz de encontrar um lugar no mundo. A repetição “não acredito em mim”, sugere uma crise de identidade e autoconfiança.

A música termina com uma pergunta sobre o amor e a aceitação, questionando se alguém pode ser amado apesar das falhas e incertezas. Essa vulnerabilidade remata a canção com notas de humanismo, destacando a necessidade universal de conexão e aceitação, mesmo no seio do caos.

O tema musical foi escrito com base num livro de Hermann Hesse (escritor alemão Nobel em 1946), que dá título à canção. O conto «Strange news from a another star» redigido em 1915, ano em que a 1ª Guerra Mundial proliferava, não se presta à interpretação racional.

Conto de fadas que trata de mundos oníricos, do subconsciente e da magia. Somente pela arte (em particular pela música e literatura aqui evidenciadas), podemos superar a impotência face à realidade vigente no mundo, plasmada no ódio e na guerra infindáveis.

Talvez tenhamos no sonho a graça do amor, da paz e da unidade, revertendo a visão pessimista de que essas virtudes sejam inatingíveis. E ao mesclar a arte e os sonhos, um futuro mais brilhante, possa vir a ser alcançado na estrela que (ainda) habitamos.