Editorial

Natal pode ser todos os dias

17 dez 2020 15:42

Este ano tudo será diferente. Os jantares de Consoada com 20 ou 30 pessoas não serão possíveis, há que manter as restrições nos contactos para evitar males maiores.

À excepção daqueles para quem, assumidamente, o Natal é um dia como outro qualquer, e por isso tanto faz passar a Consoada sozinho como acompanhado, a maioria dos portugueses vê esta quadra como a festa da família, onde todos se juntam, a ocasião para reunir à mesa pais, irmãos, filhos, netos, primos até, matar saudades de semanas ou meses de distância.

Este ano tudo será diferente. Os jantares de Consoada com 20 ou 30 pessoas não serão possíveis, há que manter as restrições nos contactos para evitar males maiores.

A pandemia está longe de estar controlada e, por muito que custe, as famílias estão a ajustar-se à realidade existente.

Consoadas que antes juntavam dezenas de pessoas vão este ano ser realizadas com três, quatro, cinco ou seis. Mas haverá certamente quem tenha de passar o Natal sozinho, por estar positivo por infecção com o coronavírus SARS-CoV-2, por exemplo.

Para esses, e para as suas famílias, a tristeza de um Natal tão diferente será seguramente maior. Mas sozinho não tem de significar necessariamente em solidão.

O ser humano não está preparado para a solidão.

É este sentimento de não ter com quem contar, de intuir que não se tem ninguém que se preocupe ou se importe connosco que dói, que adoece e que, em última instância, mata.

E porque o Natal é, ou devia ser, acima de tudo, uma época de amor, de solidariedade e de esperança, há que ter presentes estes valores e estendê-los aos que estão sós, não apenas nesta altura mas também no resto do ano.

Porque o Natal, na perspectiva de solidariedade e amor ao próximo, pode, afinal, ser todos os dias.

Este ano, sem esquecer os alertas para o cumprimento das recomendações sanitárias, a tradicional mensagem de Natal do bispo de Leiria-Fátima faz-se precisamente de apelos à fraternidade, à recuperação do verdadeiro espírito de Natal e à generosidade para com os mais carenciados.

“Nunca como agora faz tanto sentido falar de fraternidade e amizade social, porque todos nos damos conta de que ninguém se salva sozinho”, escreve D. António Marto, defendendo que a celebração do Natal “não permite que passemos ao lado, indiferentes à pobreza, ao abandono dos idosos ou sós, dos migrantes, dos sem-abrigo, dos descartados”.

Que, no Natal do próximo ano, este espírito se mantenha e que possamos, todos, partilhar os melhores momentos com aqueles de quem mais gostamos, desta vez juntos, e com o dobro dos beijos e abraços.