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Gambuzinos com 1 Pé de Fora mandam todos Ao Teatro
Ultrapassou a esfera escolar e, em articulação com encenadores e actores profissionais, a companhia da Benedita tem-se afirmado em vários palcos nacionais e internacionais. Pelo sétimo ano consecutivo, o grupo desafia o público a sair de casa para ir "Ao Teatro"
Esqueça os mitos associados aos célebres animais de quem todos falam mas ninguém vê. Afinal, estes Gambuzinos são bem reais e até se deixam espreitar, quando metem 1 Pé de Fora.
Heim?! Verdade! O grupo de teatro Gambuzinos foi formado no contexto escolar e juntava um punhado de alunos do Externato Cooperativo da Benedita, que partilhavam o gosto pela representação. Mas a ambição deste grupo depressa deixou de se confinar às paredes da escola. Havia que aprender com os melhores e apresentar o trabalho pelos vários palcos do País. Assim se formava a associação cultural sem fins lucrativos Gambuzinos com 1 Pé de Fora, que tem primado pelas colaborações com profissionais e é responsável pela organização do Ao Teatro, o festival que avança para a sétima edição e se apresenta de 20 de Março a 5 de Abril em várias salas de Alcobaça.
Além de Não chores por mim, Argentina, uma peça que irá estrear-se pela mão dos Gambuzinos, em 2020 o festival irá contar com companhias vindas de Vila Real, Águeda, Idanha-a-Nova, Vila Nova de Famalicão, Lisboa, também com a representação do actor e encenador espanhol Ángel Frágua, entre muitas outras presenças.
Duas décadas de Gambuzinos
José Saramago, professor de Matemática no Externato Cooperativo da Benedita, recorda que os Gambuzinos nasceram de uma sucessão de felizes acasos. Em 1990, quando chegou à Benedita, o então jovem professor José Saramago decidiu ir ver uma peça de teatro. Nunca o tinha feito. Tratava-se de A Boda dos Pequenos Burgueses, de Brecht, e contava com a participação de Ludvich, encenador alemão, que levava a peça a cena num antigo salão de teatro local. “Fiquei encantadíssimo. Ainda me lembro como se fosse hoje”, conta José Saramago.
Sem nunca antes ter assistido a nenhuma peça de teatro e sem a mínima noção do que seria representar, o jovem professor acabou por ser convidado para substituir uma actor dessa peça, que à última hora se viu impedido de subir ao palco num espectáculo que iria decorrer em Bruxelas. “Já nem sei como isso aconteceu... Aceitei de maneira completamente irreflectida, achando que numa semana o conseguia fazer. Estudei o papel. Eu fazia de noivo. Tivemos um ensaio apenas e lá fomos nós para Bruxelas”, recorda o professor. “E lá me desenrasquei, mais mal do que bem, mas ninguém notou”, brinca o docente.
Quando em 1996 esse mesmo encenador tornou a colaborar com a Barafunda, uma associação juvenil que tinha sede nas instalações do externato, o professor de Matemática voltou a integrar o elenco para se render por completo à representação. Já em 1999, José Saramago lançou o desafio aos alunos do externato para que ali fosse criado um grupo de teatro. E assim se formavam os Gambuzinos, como grupo de teatro daquela escola, um projecto que ainda se mantém dinâmico, 20 anos depois.
Muitos desses alunos beberam dali inspiração e motivação para se manterem nas artes cénicas. Alguns deles acabaram por prosseguir estudos superiores na área do Teatro, outros nos Cinema, realça José Saramago. Actualmente, há um aluno que está a fazer teatro em Barcelona e uma aluna, Sofia Fialho, que se tornou actriz profissional e que em breve estará de volta à Benedita para se apresentar nesta sétima edição do festival Ao Teatro, expõe o professor.
Além do grupo de teatro Gambuzinos, foi necessário criar uma associação cultural que, apesar de continuar ligada à escola, pudesse ir além dela, explicam o professor José Saramago e também o empresário Daniel Machado, ambos envolvidos desde o primeiro momento na constituição dos Gambuzinos com 1 Pé de Fora.
Embora permaneça amador, o grupo de teatro dos Gambuzinos com 1 Pé de Fora possibilita ao elenco ter outra facilidade em realizar intercâmbios, trabalhar com actores e encenadores profissionais, e alcançar a visibilidade e a credibilidade que não conseguiriam obter se a companhia se confinasse à actividade escolar, justificam os membros fundadores da associação constituída em 2012.
Aprender com os melhores
Actor, encenador e fundador da Companhia do Chapitô, José Carlos Garcia é um dos ilustres profissionais com quem os Gambuzinos com 1 Pé de Fora têm vindo a trabalhar. Antes a morte que tal sorte, uma das peças mais recentes deste grupo, que se estreou há ano e meio no âmbito do Books & Movies – Festival Literário e de Cinema de Alcobaça, foi um dos trabalhos onde a companhia da Benedita contou a encenação de José Carlos Garcia. A peça foi realizada a partir da obra As intermitências da morte, escrita pelo Nobel da Literatura José Saramago, e foi muito bem recebida pelo público.
Além do director artístico do Chapitô, o currículo do grupo da Benedita já foi abrilhantado pelas colaborações de actores dos Teatros da Comuna, Meridional, Contra Senso, entre tantos outros que, ao longo do tempo, têm transmitido o seu saber a esta companhia de amadores, contam José Saramago e Daniel Machado.
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